Estudo indica que traços escuros na superfície do planeta, que os cientistas pensavam se tratar de um rio, são, na verdade, pequenos grãos sólidos
A ciência é cheia de reviravoltas – e parece que os astrônomos acabam de se deparar com mais uma. Quando cientistas perceberam traços escuros na superfície de Marte, pensaram se tratar de um rio. Mas um estudo publicado nesta segunda-feira na Nature Geoscience afirma que o fluxo não passa de uma movimentação de areia e poeira, derrubando a teoria de que o planeta vermelho apresentaria um volume significativo de água líquida.
Os cientistas analisaram as características de algumas regiões do planeta que eram mais escuras do que os arredores e aparentavam ter um fluxo descendente de material. Eles batizaram essas zonas de Linhas de Declive Recorrente (RSL, na sigla em inglês). “Pensamos na RSL como um possível fluxo de água líquida, mas os declives são mais parecidos com o que esperamos para areia seca”, disse o líder do estudo, Colin Dundas, pesquisador do Serviço Geológico dos Estados Unidos. “Esta nova compreensão da RSL apoia outras evidências que mostram que Marte hoje é extremamente seco.” Seco o suficiente, afirmam os autores, para tornar praticamente impossível a existência de formas de vida semelhantes às da Terra na superfície do planeta.
A parte curiosa é que essas linhas escuras aparecem e desaparecem segundo a época do ano, recorrendo sempre no verão marciano. Por isso, os cientistas pensavam se tratar de fluxos de água que descongelavam e fluíam quando as temperaturas aumentavam. Além disso, as RSL são encontradas principalmente em encostas rochosas íngremes, no sul, equador e norte do planeta, com padrões na forma que crescem e se movimentam que lembram um rio. Mas, uma análise mais aprofundada conduzida por Dundas e sua equipe mostrou que o material que corre por esses fluxos é, provavelmente, composto por grãos de areia e poeira.
A extremidade terminal dessas linhas de fluxo são idênticas às encostas de dunas de areia, afirma o pesquisador. E é pouco provável que a água pudesse causar esse comportamento, pois seria necessário um volume de líquido correspondente ao comprimento do declive – com declives mais compridos apresentando mais água –, o que não foi observado pelos cientistas. Dos 151 RSL examinados pelos autores, todos tinham terminações idênticas apesar de apresentar comprimentos diferentes. Além disso, afirmam os cientistas, é improvável que água seja produzida no topo de declives com as angulações observadas – e mesmo se fosse, o líquido deveria vazar para outros declives também.
Ainda assim, Dundas e sua equipe afirmam que pequenas quantidades de água ainda podem estar envolvidas de alguma forma no aparecimento dessas linhas, pois minerais hidratados foram detectados em alguns locais das RSL, ainda que o fluxo em si não seja formado por líquido.