Casas, carros, figuras humanas e até comida tornam-se obras de arte na exposição do austríaco Erwin Brum. Mostra fica em cartaz no CCBB até 26 de junho com entrada gratuita.
Brasília é uma das capitais escolhidas para sediar a exposição do austríaco Erwin Wurm pela primeira vez no Brasil. Em “O corpo é a casa”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o artista dá vida a objetos banais do cotidiano por meio de esculturas e instalações que instigam a reflexão sobre os maus hábitos da “sociedade de consumo”. A mostra fica em cartaz até 26 de junho, com entrada gratuita.
Wurm usa o humor para atrair o olhar do espectador a objetos e formas humanas distorcidas. A “estética da banalidade” – como o curador da mostra, Marcello Dantas, caracteriza a plástica do artista – provoca certo desconforto ao reconfigurar imagens familiares em um contexto perturbador, como pedras vestidas com roupas e uma casa “obesa”.
“Transforma o carro, a salsicha, o pepino e a casa em matéria escultórica e lhes imprime uma dimensão simbólica, de nosso tempo, em que o banal é objeto de apreciação constante e o tédio pode ser cultuado”, diz Dantas no texto de apresentação da mostra.
Por meio de figuras triviais, algumas incomuns no meio artístico – como pães e salsichas – Wurm direciona o olhar do espectador para dentro de si. “Ele questiona essa sociedade que prega o consumo excessivo, um padrão de beleza”, diz a coordenadora educativa do CCBB, Natália Vinhal.
Uma dieta de engorda – obra menos impactante aos olhares – é a maior expressão da crítica de Wurm na mostra. Dispostas em duas mesas, as descrições das refeições às quais o artista se submeteu durante oito dias revelam comportamentos alimentares e até sociais da vida contemporânea.
“Ele foi mais fundo na reflexão do padrão[de beleza] que se prega quando realmente fez essa dieta, sendo a própria escultura do corpo durante uma semana.”
Ser obra
Na parte interativa, onde é possível tornar-se obra de arte por alguns minutos, os espectadores são convidados a executar as ideias de Erwin Wurm. Em tablados, alguns objetos e instruções escritas no chão guiam as ações, criadas para durar um minuto.
A artista e professora universitária, Ana Reis, de 32 anos, participou de quatro instalações nesta quarta (26) e elogiou a proposta artística inusitada, que pode ser reinterpretada por cada espectador. “As instalações são um espaço de ativação do espectador, que dialogam com a escultura e a performance. Os desenhos são bem sugestivos e convidativos.”
Quem interage com as obras, segundo a coordenadora educativa do CCBB, experimenta sentimentos diversos. “Primeiro vem o riso com os objetos inusitados, depois o choque e aí as pessoas percebem que [as obras] estão recheadas de camadas para reflexão.”
A estudante Stephanie, de 12 anos, que participou de uma visita guiada com a turma do Centro de Ensino Fundamental 5, de Taguatinga, disse ter gostado do caráter “informativo” da mostra. “Acho que ele quis fazer uma crítica bem pesada à sociedade. Ele mostra o que acontece por meio da arte.”