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Febre amarela no DF não é motivo para pânico, diz governo; tire dúvidas

Caso confirmado nesta quinta é ‘importado’; Saúde diz ter estoque suficiente, e estima que 9 em cada 10 pessoas já estão imunes. Doses extras podem gerar risco, e vacina tem contraindicação.

Febre amarela no DF não é motivo para pânico, diz governo; tire dúvidas

O anúncio da primeira morte confirmada por febre amarela no Distrito Federal, nesta quinta-feira (19), aumentou a preocupação dos moradores com a possibilidade de um surto da doença – similar ao enfrentado por municípios de Minas Gerais. Os responsáveis por monitorar a saúde coletiva do DF afirmaram que “não há razão para pânico”, e nem para uma corrida desenfreada aos postos de saúde.

“Precisamos dizer à população que existe estoque de vacina, e que medidas de controle vetorial [de mosquitos] foram tomadas. À medida que apareçam novas situações, nós vamos informar. A prioridade de vacina é para pessoas que vão viajar para áreas de risco”, diz o subsecretário de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, Tiago Coelho.

Segundo ele, quem já recebeu as duas doses de vacina nos primeiros cinco anos de idade, ou corrigiu essa vacinação durante a vida adulta não tem motivo para se preocupar. Caso a pessoa tenha perdido o cartão de vacina ou se sinta insegura com a própria imunidade, o ideal é procurar um especialista e “abrir o jogo”.

A aplicação demora cerca de dez dias para fazer efeito – o corpo precisa identificar a presença do vírus, reagir e criar os anticorpos. Se a viagem foi marcada em cima da hora e a vacinação está pendente, diz Coelho, uma mudança de planos deve ser cogitada pelo paciente.

Entenda a vacinação

Há décadas, o Distrito Federal aparece como “área de risco” para febre amarela nos protocolos do Ministério da Saúde. Isso significa que, se a caderneta infantil foi seguida à risca, todas as crianças nascidas no DF foram vacinadas até os 9 meses de idade, com uma dose de reforço por volta dos 5 anos. Se isso foi feito, não há risco de pegar febre amarela.

Para quem nasceu nos oito estados fora da área de risco – Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro – ou não foi vacinado por algum motivo, é preciso tomar duas doses em um intervalo máximo de 10 anos.

Segundo Coelho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que uma única dose da vacina já seria suficiente para produzir anticorpos e evitar o contário. “No Brasil, devido ao histórico, o Ministério da Saúde acaba pedindo esse reforço com duas doses”, explica. O país produz vacinas suficientes para consumo próprio e exportação.

“Já tivemos casos de pessoas procurando postos de saúde em pequenos intervalos de tempo, para tomar mais de duas doses. Isso, sim, se classifica como risco. Pode haver um efeito adverso”.

A vacina é feita com o vírus vivo e atenuado. Por isso, existe uma chance pequena (de 1 em 400 mil) de que a aplicação da substância acabe causando efeito reverso, desencadeando um quadro de febre amarela no paciente. Se algum sintoma atípico for notado após a injeção, é importante avisar a um médico.

Segundo o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do ministério, Eduardo Hage. a chamada “febre amarela vacinal” é raríssima, mas pode acontecer quando o paciente tem alguma contraindicação para tomar a vacina. A aplicação é contraindicada para gestantes, recém-nascidos, pessoas doentes ou com baixa imunidade, por exemplo.

Estoques e taxas

Preocupados com as notícias de crescimento da febre amarela na região sudeste, muitos moradores do DF foram aos postos de saúde na última semana para tentar um reforço na vacinação, mas saíram dos postos de mãos vazias porque não havia doses. Segundo o governo, não há nenhuma irregularidade no fornecimento.

“Nós temos mais de 200 postos de saúde, mas nem todos têm sala de vacina. São 123 salas no DF, espalhadas nas regiões, e todas elas têm câmara de refrigeração com doses contra a febre amarela”, diz Coelho.

Até o último domingo (15), havia cerca de 15 mil doses de vacina nos estoques da rede pública do DF. Com o aumento da procura, o número caiu para 10 mil até a tarde desta quinta (19). Até a próxima semana, o ministério deve enviar 42 mil doses adicionais para serem distribuídas nos postos de saúde do DF.

Em 2015, a Secretaria de Saúde aplicou 181 mil doses de vacina contra febre amarela em crianças e adultos, e identificou de 91,6% da população estava protegida. Em 2016, de janeiro a outubro, foram 191.200 vacinas aplicadas, mas 81,4% das pessoas estavam com as vacinas em dia.

Mesmo quando os dados de novembro e dezembro forem incluídos, o DF deve ficar abaixo da meta nacional, que é de 95% de proteção. O governo adota várias estratégias para atingir essa população que está à mercê do vírus.

“Temos as campanhas, incluindo a de multivacinação que ocorre no segundo semestre. Também fazemos busca ativa nas zonas rurais, na tentativa de colocar os cartões vacinais em dia, e sensibilizamos os pais para cumprir o calendário”, diz o gestor.

Profissional prepara seringa para vacina contra febre amarela (Foto: Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo)

Caso ‘importado’

Nesta quinta, a Secretaria de Saúde informou que um homem de 40 anos morreu de febre amarela em um hospital do Cruzeiro Velho. Segundo a pasta, a doença foi contraída em Minas Gerais, onde o paciente morava. Ele chegou a Brasília na segunda (16) para visitar o irmão em São Sebastião, mas teria descido do ônibus já com sintomas da doença.

“Ele tinha febre e mialgia [dor muscular], e foi atendido na UPA de São Sebastião já com um quadro de convulsões, que evoluiu para insuficiência renal e hepática. Foi transferido no mesmo dia para o hospital São Mateus, e ali faleceu ontem [quarta, 18]”, declarou o secretário, Humberto Fonseca.

De acordo com o subsecretário Tiago Coelho, nesse tipo de caso, há um processo investigativo “de trás para frente”. Os espaços visitados pelo homem após o dia provável da infecção – o ônibus, a casa do irmão e o hospital, por exemplo – são vistoriados, e quem teve contato direto com ele pode ser chamado a tomar uma nova vacina.

“Esse é o norte da investigação. Onde houve foco, colocamos o larvicida. E hoje [quinta] começamos o controle químico, com fumacê, para que mate algum mosquito contaminado. O tempo entre o contágio e a morte foi pequeno, então a chance [de transmissão] é pequena”, diz Coelho.

Após a confirmação da morte, o caso foi notificado ao Ministério da Saúde, que ainda trata a ocorrência como uma suspeita. O teste sorológico mais “simples”, feito pelo Laboratório Central do DF, deverá ser replicado com outra técnica em laboratórios de referência, como o Adolfo Lutz, em São Paulo, ou o Evandro Chagas, no Pará.

Além dos exames laboratoriais, a análise do histórico médico, da carteira de vacinação e dos hábitos da vítima deve ajudar a “fechar o diagnóstico” – por exemplo, descartando a transmissão por vacina ou em meio urbano.

“Não temos casos urbanos no Brasil desde 1942 e não tínhamos nenhum caso de febre amarela no DF desde 2009, quando também foi um caso importado”, diz Fonseca.

Macacos

Desde 1942, os casos de febre amarela registrados no Brasil são do tipo rural. Um dos principais indícios de risco de surto aparece em áreas de mata, quando macacos são encontrados mortos e em grupo, concentrados em uma mesma localidade.

Isso acontece porque os mosquitos Haemagogus e Sabethe podem picar os macacos infectados e transportar o vírus até humanos saudáveis, completando o ciclo. Não há como transmitir ou pegar febre amarela por contato direto com doentes.

Por causa desse tipo de transmissão, a morte de macacos é acompanhada pela Vigilância Epidemiológica. Em 2015, 96 animais morreram em áreas de mata, e oito tiveram confirmação de febre amarela em Ceilândia, Candangolândia, Park Way e no Zoológico de Brasília.

Em 2016, o governo conseguiu registrar 53 mortes de macacos, sendo que cinco já acusaram positivo para febre amarela. Até quinta, 24 amostras seguiam sob investigação no instituto Evaldo Chagas. As mortes pelo vírus foram confirmadas no Núcleo Bandeirante, na Candangolândia, no Zoológico, no Lago Sul e no Jardim Botânico.

A febre amarela também pode ser transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que leva e traz os vírus da dengue, da chikungunya e da zika. Para isso, é preciso que ele pique uma pessoa infectada e, em seguida, faça o mesmo com uma pessoa saudável. Esse tipo de contaminação em ambiente urbano nunca foi registrado no DF.

Quadro nacional

Até a tarde de quarta-feira, o Ministério da Saúde listava 206 casos suspeitos de febre amarela em 29 cidades do leste mineiro. Destes pacientes, 53 pessoas morreram – incluindo oito que já tiveram relação comprovada com a doença, após testes de laboratório. O caso do DF não está contabilizado nesses dados.

Além do surto registrado em Minas Gerais, as equipes de saúde também acompanham seis casos suspeitos em quatro municípios do Espírito Santo. Por causa desses registros, os estados receberam 1,6 milhão e 500 mil doses extras da vacina, respectivamente.

Segundo o ministério, o Espírito Santo continua fora do mapa de áreas de risco, mas receberá reforço pontual na imunização. O mesmo deve acontecer em 14 cidades do Rio de Janeiro que estão próximos à região do surto em Minas Gerais.

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