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França e Reino Unido sugerem reviver aliança da 1ª Guerra Mundial por ‘medo’ do retorno de Trump

© AFP 2023 / Ludovic Marin
Além disso, os ministros defenderam a mobilização da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para evitar a vitória da Rússia em meio à operação militar especial na Ucrânia, cujo regime de Vladimir Zelensky enfrenta contínuas dificuldades. Para Cameron e Sejourne, os dois fundadores do antigo bloco militar possuem “responsabilidade de levar a aliança a lidar com os desafios que enfrenta”.

“Devemos fazer ainda mais para garantir que derrotemos a Rússia. O mundo está observando, e nos julgará se falharmos”, escreveram em um artigo publicado pelo The Telegraph.

Com relação ao artigo, o professor de política e história do Instituto Católico da Vendée (ICES, na sigla em francês) e especialista em assuntos internacionais John Laughland enfatizou à Sputnik que o Reino Unido e a França são “duas das principais potências militares da Europa” e desfrutam de um “nível bastante elevado” de cooperação militar bilateral.
Apesar de Londres e Paris “terem de fato fortalecido essa cooperação nos últimos anos”, como Cameron e Sejourne escreveram, o especialista não vê “quaisquer novas iniciativas substanciais” no artigo, que ele descartou apenas como propaganda.
Enquanto a Entente Cordiale conseguiu se manter na Primeira Guerra Mundial em grande parte devido à contribuição do Império Russo, Laughland sugeriu que esse novo eixo britânico-francês inevitavelmente se apoiaria nos Estados Unidos, “porque tudo o que eles dizem sobre a Entente britânica-francesa está no contexto da OTAN”.
“A guerra atual é uma guerra da OTAN. Eles estão se apoiando nos americanos”, observou.
Para o professor de política e história, a França e o Reino Unido podem ser motivados pelo medo do retorno de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

“Acredito que as potências europeias, incluindo a França e o Reino Unido, estão tentando antecipar esse resultado porque, corretamente ou não, temem que Trump queira fazer as pazes com a Ucrânia, fazer as pazes com a Rússia”, refletiu o acadêmico. “Mas, novamente, considero isso apenas uma jogada política de gestos, esse artigo e essa comemoração.”

Aliança revivida parcialmente e ataque à Líbia

Laughland também lembrou uma tentativa anterior de Cameron de reviver parcialmente a Entente Cordiale em 2010, quando era primeiro-ministro britânico e assinou acordos de defesa militar com a França. Um dos resultados do acordo foi “o ataque à Líbia em 2011 que, pelo que entendemos, foi uma iniciativa franco-britânica”.

“Foi uma iniciativa francesa que os britânicos imediatamente apoiaram. E o ataque à Líbia em 2011 que, é claro, os norte-americanos também apoiaram e depois se tornou um ataque da OTAN, foi uma guerra absolutamente catastrófica. Mostrou mais uma vez que a OTAN é uma aliança agressiva. Digo mais uma vez porque, é claro, a OTAN havia atacado a Iugoslávia em 1999. Então, infelizmente, é um precedente muito ruim o acordo de 2010”, comentou.

Enquanto isso, Mikael Valtersson, ex-oficial das Forças Armadas suecas e chefe de gabinete do partido político Democratas da Suécia, argumentou que o verdadeiro motivo da conversa sobre reviver a Entente Cordiale é o desejo do Reino Unido e da França de “assumir um papel maior na política internacional”, aliado ao reconhecimento de que eles não são “suficientemente grandes para fazê-lo sozinhos”.

“Tanto o Reino Unido quanto a França também estão unidos em sua abordagem quase fanática e linha-dura em relação à Rússia. Como dizem no artigo, a Rússia deve perder e a Ucrânia deve ganhar”, acrescentou.

Segundo Valtersson, a abordagem linha-dura em relação à Rússia pode ser a razão pela qual a Alemanha não foi incluída no artigo.

“A diferença é que o líder francês, o presidente Emmanuel Macron, na França, pertence ao campo antirrusso beligerante, enquanto o líder alemão, o chanceler [Olaf] Scholz, pertence a um grupo mais moderado. Esses fatos tornam uma nova Entente [Cordiale] muito frágil. Macron pode ser substituído como presidente francês por um sucessor mais nacionalista e pragmático. Então, a chamada aliança com o Reino Unido terá acabado”, explicou.

Além disso, o especialista vê que há preocupações do Reino Unido e da França de que o poderio econômico alemão daria a Berlim “muito influência” na provável aliança, sem mencionar os receios de Londres e Paris sobre um possível retorno de Trump à Casa Branca ainda este ano, observou.

“Essa conversa sobre uma Entente Cordiale revivida pode ser uma tentativa do Reino Unido e da França de assumir ou, pelo menos, de se preparar para assumir a liderança do campo antirrusso beligerante no Ocidente. [Poderia haver] preparações caso os EUA abandonem a Ucrânia. Mas como eu disse antes, é uma aliança fraca, já que grande parte da população francesa não está a bordo”, finalizou.

 

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