Apenas sete estados, comandados por aliados de Bolsonaro, participaram do encontro em Brasília
A principal definição do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro, os chefes do Legislativo e alguns governadores foi a criação de um comitê federal para facilitar o diálogo com os gestores estaduais no que diz respeito às medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Mas a ideia proposta por Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidentes da Câmara e Senado, que poderia ser uma via para reduzir o ruído entre estados e o Planalto, já criou novos atritos com governadores que não foram convidados para participar da reunião.
O encontro que precedeu a criação do comitê contou com a presença apenas de políticos alinhados com a gestão de Bolsonaro. São eles: Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Renan Filho (Alagoas), Wilson Lima (Amazonas), Ratinho Júnior (Paraná), Cláudio Castro (Rio de Janeiro) e coronel Marcos Rocha (Rondônia). Excluído do grupo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou a novidade e classificou a equipe como “não confiável”.
“O Brasil quer vacinação, o Brasil não quer comitê de adulação e disso não participo (…) Este comitê, primeiro, não nos representa, nós não fomos convidados, e aquilo que representa a saúde, a necessidade de proteção da vida dos brasileiros de São Paulo, deve ser tratado com o governador do Estado de São Paulo, e não com o representante do governador do Estado de São Paulo”, declarou Doria em coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
Na ocasião, Doria também criticou o pronunciamento nacional realizado na noite desta terça-feira por Bolsonaro. Em mais um capítulo da disputa política com o presidente, o tucano considerou a fala uma farsa, “com mentiras, inverdades e disfarçando até mesmo com uma máscara que nunca utilizou”, afirmou.
Ao longo desta quarta-feira, outros governadores também decidiram se posicionar publicamente sobre o encontro. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) afirmou em entrevista que o encontro representa uma preocupação maior com fotos e manchetes do que em viabilizar caminhos para solucionar a crise. Nas redes, Leite publicou um vídeo para tratar do tema e reforçou a importância de uma coordenação nacional.
“A criação de um gabinete de crise chega com muito atraso, de pelo menos um ano. O pronunciamento do Presidente da República feito em cadeia nacional é totalmente incoerente em relação a tudo que ele falou ao longo da pandemia. Ele chamou para a reunião apenas governadores próximos ideologicamente, o que significa não se dispor a ter um diálogo com a nação para o enfrentamento da pandemia”, criticou.
Na Bahia, em entrevista a um veículo local, o governador Rui Costa (PT) reclamou que também não foi convidado, mas garantiu que em “toda e qualquer reunião com o presidente” a Bahia está disposta a contribuir com ideias. “Tudo que ele fez até aqui foi debochar das vacinas. Chamava de ‘vacina comunista’ e ‘vachina’. Espero que o presidente deixe de ser aliado do vírus e seja aliado da vida”.
O comando do grupo ficou delegado oficialmente a Rodrigo Pacheco, recém-eleito à presidência do Senado com apoio da base governista e da oposição. Apesar de representar uma posição mais moderada, já recebe a desconfiança de que o comitê federal se trata de um movimento político.
— Fiquei animado com a possibilidade de criação do comitê, mas, pelo relato de pessoas que estavam na reunião, a perspectiva é de pouca mudança. O comitê ficou sem estados e municípios, então mantém desintegração, terceirizando para o senador Rodrigo Pacheco a relação com governadores para tratar da rede de saúde, da falta de insumos, da estratégia de prevenção e vacinação… Ou seja, não vai dar certo — opinou Wellingon Dias (PT), governador do Piauí.