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Governo estima que pico da covid-19 no DF dure mais de uma semana

Previsão do Governo do Distrito Federal (GDF) é de que o platô da doença permaneça pelo menos até 25 de julho. Reabertura do comércio, inclusive com a retomada das atividades em bares e restaurantes, preocupa médicos e especialistas

 DF — Foto: Geovana Albuquerque/Agência Saúde

Com mais circulação de pessoas nas ruas, principalmente por causa da reabertura de bares e restaurantes, o aumento dos casos da covid-19 e das mortes provocadas pela doença preocupa especialistas e profissionais que atuam no combate ao novo coronavírus. Nos primeiros 16 dias de julho, o Distrito Federal ultrapassou o total de óbitos de todo o mês passado. Em duas semanas, houve 417 vítimas, contra 416, em junho. Se a tendência persistir, essa quantidade deve dobrar até agosto. Ontem, o DF contabilizou mais 36 pessoas que não resistiram às complicações da enfermidade, nos últimos 34 dias.

O governo local considera que a capital federal vive um momento de pico da doença e que, até 25 de julho, a situação permanecerá em patamar semelhante — o platô. No entanto, ainda não há estimativas de quando o número de casos e de mortes deve começar a cair. Unidades de saúde públicas e privadas operavam com capacidade máxima ontem, como os hospitais regionais de Brazlândia, de Ceilândia (HRC), de Planaltina, além de 11 particulares.
Presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico), Gutemberg Fialho afirma que a situação é grave há pelo menos um mês. Ele afirma que o cenário é de colapso e que os dois sistemas, público e privado, chegaram à exaustão. “E o contágio aumenta dia a dia. As queixas dos profissionais são inúmeras, por excesso de pacientes, falta de leitos, de equipamentos de proteção individual, de espaço na enfermaria e na UTI (unidade de terapia intensiva). Fora que muitos profissionais se contaminaram e não têm sido afastados”, ressalta.

Gutemberg cobra mais controle do isolamento e responsabilidade por parte da população, para que atenda com “severidade e rigidez” às medidas de segurança. “Usar máscaras, evitar aglomeração, não sair às ruas sem necessidade. O número de mortes está aumentando. Se não houver isso, além de isolamento e higienização das mãos, as pessoas vão continuar morrendo cada vez mais”, alerta o médico.

Ampliação

Em junho, houve aumento de 32,9% de sepultamentos nos seis cemitérios brasilienses. Do total de 1.409 enterros, 490 foram de pessoas que morreram por causa da covid-19. Esse número inclui pessoas do DF e de outras unidades da Federação. O mais recente boletim semanal da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) que analisa o cenário da pandemia apontou que, em julho, houve desaceleração do número de casos. Contudo, o documento destaca que esse processo “pode ser reflexo da redução da testagem e que mudanças no grau de isolamento podem modificar esse cenário”.

Para enfrentar o momento, a Secretaria de Saúde informou que tem “aumentado gradativamente” o número de leitos com suporte de ventilação mecânica. A pasta fechou um acordo com a rede privada para garantir mais 35 vagas em UTIs. “Na última segunda-feira, foi inaugurado o hospital modular anexo ao HRC, que conta com 73 leitos de internação para a covid-19. São 70 leitos de enfermaria e outros três de isolamento, para receber pacientes com sintomas gripais e comorbidades”, detalhou o órgão.
Além disso, segundo a Secretaria de Saúde, as obras do Hospital de Campanha de Ceilândia começaram nesta semana e devem terminar em dois meses. A unidade terá 60 leitos, sendo 20 com suporte respiratório e 40 na enfermaria. “Os leitos de UTI são regulados pelo Complexo Regulador, que funciona 24 horas por dia, seguindo critérios clínicos e priorizando os casos de acordo com a gravidade. Todos os pacientes que precisam de UTI são encaminhados para vagas definidas pelo complexo, podendo ser direcionados para qualquer um dos hospitais que tenha vaga específica para atender ao seu caso”, acrescentou.

Leitos públicos

475: ocupados
151: vagos
32: bloqueados ou aguardando liberação
77,15%: ocupação de leitos adultos
58,33%: ocupação de leitos pediátricos

Leitos privados

238: ocupados
21: vagos
1: bloqueado
91,89%: ocupação total
Fonte: Sala de Situação da Secretaria de Saúde em 16/7/2020

Tira-dúvidas

Bergmann Morais Ribeiro, doutor em microbiologia e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB)

Por que o novo coronavírus se propaga tão facilmente?

Cada vírus se espalha de forma diferente. Alguns com mais facilidade que os demais. A partir de um mesmo hospedeiro, o coronavírus tem a capacidade de infectar duas ou três pessoas, em média. Se uma população tende a ficar mais em casa, essa taxa diminui.

Em que ele se difere de micro-organismos que causam outras doenças respiratórias?

Pelo local onde acontece a replicação: outros vírus não afetam tanto o pulmão. Esse vírus, ao longo do tempo, ainda pode infectar rins, coração, além de células do sangue.

Hidroxicloroquina, antibióticos ou vermífugos são eficazes na prevenção ou no tratamento da covid-19?

Esses medicamentos são usados contra bactérias, parasitas e vermes, pois contam com compostos que inibem a replicação deles. Os testes com esses medicamentos ocorrem, geralmente, em cultura de células, em laboratórios. Depois de se verificar a destruição do vírus in vitro, os remédios são testados em humanos. No entanto, isso não significa que os químicos terão os mesmos efeitos no corpo.

Por que os leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) são importantes?

Na UTI, o ambiente é preparado para atendimento de casos graves. Os leitos contam com ventiladores mecânicos, que ajudam o paciente a respirar e a sobreviver. O espaço recebe pessoas com quadro mais sério e conta com profissionais capacitados para lidar com isso.

O que se deve fazer para evitar a disseminação da doença?

A vacina não chegou ainda; por isso, as recomendações são as mesmas do início da pandemia: sair apenas para o essencial e evitar contato próximo com pessoas que não morem com você ou que estejam infectadas. Se for preciso ir à rua, use máscara, evite encostar em superfícies, não toque o rosto se as mãos não estiverem higienizadas e mantenha distância mínima de dois metros dos demais. Lembre-se de que as máscaras precisam ser trocadas, em média, a cada duas horas ou quando ficarem úmidas.

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