Na fronteira com a Ucrânia, antigo reduto de nobres da Polônia se transforma em rota de passagem de mísseis e tanques; Biden visita local nesta sexta, dia 25, e saúda tropas americanas
Poucas cidades têm uma localização tão privilegiada como Rzeszów — à beira do Rio Wislok e rodeada por florestas, no sudeste da Polônia, por muito tempo foi conhecida como entreposto da rota comercial entre a Europa e o Oriente Médio. Nos últimos anos, ela entrou também para o mapa do turismo: o castelo do século 16 e as ruas medievais, da época em que a cidade era um puxadinho das famílias nobres mais notórias da Polônia, vinham atraindo visitantes. O mais recente deles foi Joe Biden, em sua primeira visita oficial à Polônia, nesta sexta, dia 25, por razões estratégicas.
A 80 quilômetros da fronteira com a Ucrânia e com um aeroporto preparado para receber voos militares, a cidade se tornou o maior corredor de armas da Europa. Dia e noite, comboios de armamentos têm cruzado o pequeno munícipio de 200 mil habitantes. A Alemanha já enviou 500 mísseis antiaéreos para a Ucrânia, através de Rzeszów, e deve mandar outros 1,7 mil nos próximos dias. A Suécia deve liberar 5 mil armamentos.
Outros países têm feito ainda mais. O Congresso americano já aprovou mais de US$ 500 milhões em ajuda militar para a Ucrânia. Outros US$ 800 milhões podem estar a caminho. Pelo menos US$ 350 milhões já foram gastos para a compra de mísseis americanos guiados por luz infravermelha, capazes de derrubar aviões. O governo dos Estados Unidos deve despachar 1,4 mil mísseis e 4,6 mil lançadores ao longo do ano para Kiev.
O país não está mandando apenas armamentos. Tropas americanas, algumas da divisão de infantaria de transportes aéreos, permanecem estacionadas em Rzeszów. É a eles que Biden deve se dirigir nesta sexta e sábado, dia 26, durante sua visita à cidade. É esperado um discurso “importante” e “significativo” do presidente americano, segundo a Casa Branca. Antony Blinken, secretário de Estado, esteve no local há algumas semanas para uma reunião com representantes do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, um ex-comediante.
Além de chefes de Estado, Rzeszów tem recepcionado mercenários — como em guerras recentes, a exemplo do que aconteceu na Síria, as grandes potências têm evitado se envolver diretamente nas batalhas, preferindo enviar ex-combatentes e pessoal com treinamento militar que recebem salários mensais. A Rússia também estaria recrutando pessoal, especialmente no Oriente Médio, em países como o Irã e a Síria. Segundo o presidente Vladimir Putin, cerca de 1,6 mil mercenários devem embarcar para a Ucrânia.
A Ucrânia estaria fazendo o mesmo, segundo o Kremlin. Combatentes pagos estariam se juntando a voluntários e profissionais especializados em segurança, em geral ex-militares. De acordo com o governo ucraniano, cerca de 20 mil estrangeiros, a maioria de países ocidentais, ingressou na Legião de Defesa Territorial da Ucrânia. Não há notícia, no entanto, de que estejam lutando em Mairupol, cidade portuária onde se desenrola uma das maiores batalhas da guerra.
Na fronteira com a Polônia, o 30º dia da guerra na Ucrânia tem transcorrido diferente. Nesta sexta, Biden comeu pizza com as tropas americanas da 82ª Divisão Aerotransportadora em Rzeszów. Não faltou tempo para selfies dos soldados com o presidente americano. “Vocês são a maior força militar da história do mundo”, disse Biden. “Muito, muito obrigado”.