Juarez Souza e outro homem, que preferiu não se identificar, dizem que receberam oferta em São Sebastião, em maio deste ano. No local, eles precisavam dormir em curral e trabalhar cerca de 12 horas por dia, sem receber pagamento.
Estrutura precária, jornadas de trabalho extenuantes e falta de pagamento. Essa é a rotina que Juarez Souza denuncia ter vivido em uma fazenda em São Sebastião, no Distrito Federal, onde estava em condições análogas à escravidão desde o início de maio deste ano.
“Não tinha banheiro, não tinha nada. A gente tinha que ir no mato”, conta, após fugir do local e denunciar o caso às autoridades.
Ele e outro homem, que preferiu não se identificar, foram abordados por um empregador, que ofereceu trabalho como cortadores de eucalipto na fazenda (veja detalhes abaixo). A dupla conta que, no local, precisou dormir em um curral e chegava a trabalhar 12 horas por dia.
A reportagem entrou em contato com o empresário Igor Emir, proprietário da fazenda, que afirmou ter contratado o serviço de um homem para cortar eucalipto na fazenda. No entanto, ele diz não saber que o contratado havia chamado outras duas pessoas informalmente para ajudar no trabalho.
Sem estrutura
Homem foge de fazenda em São Sebastião, no DF, onde vivia em condições análogas à escravidão — Foto: Reprodução
Juarez conta que saiu da Bahia no início do ano, para tratar uma hérnia. Ele aguardava uma cirurgia na rede pública de saúde, em Planaltina. No entanto, com a demora para o procedimento, precisou sair do hospital.
“Eu fiquei desesperado. Fiquei um pouco na rua, aí eu fui para Planaltina, em busca de qualquer serviço”, diz.
Lá, ele conheceu um homem, chamado Manoel, que lhe ofereceu emprego para cortar e transportar eucaliptos na fazenda Barra da Cachoeirinha, em São Sebastião. “Ele fez uma prosa muito bonita, [era] uma pessoa muito elegante. Quando cheguei lá, eu achei estranho”, lembra Juarez.
Ele e o colega descobriram que teriam que dormir em um curral. No início, nem colchão eles tinham. Juarez afirma que, durante a onda de frio que atingiu o DF no mês passado, os dois sofreram. “A gente passou bastante frio. Eu tinha coberta, mas o outro tinha uma cobertinha.”
Depois de 12 horas de expediente, mais precariedade: era preciso tomar banho gelado e não havia banheiro para os dois usarem. “A água, a gente tinha que pegar na torneira para tomar”, conta o homem.
Já a realidade do homem que o contratou era bem diferente, diz Juarez. “Ele morava na frente e nós morávamos no fundo. Ele morava na casa que tinha uma cozinha muito chique. A casa dele era boa”, relata.
“Nesse momento, eu me senti como um escravo, porque colocar a gente em um lugar daquele. Dormir dentro de um cocho de gado, muriçoca mordendo, morcego dentro do galpão, na beira de uma mata. Era aranha, escorpião. Enquanto ele estava dormindo em uma cama boa, nós estávamos sofrendo”, conta Juarez.