Joana D’arc Cavalcante tinha 69 anos e faleceu no sábado (8). Ela foi infectada pelo novo coronavírus dez dias após deixar hotel em Brasília, por conta do fim da iniciativa.

A pandemia do novo coronavírus vitimou Joana D’arc Cavalcante, de 69 anos. A idosa foi diagnosticada com a Covid-19 dez dias depois de deixar o programa “Sua vida vale muito – Hotelaria Solidária”, do governo do Distrito Federal, e veio a óbito no sábado (8).
Joana ficou dois meses hospedada em um estabelecimento no Setor de Hotéis e Turismo Norte. No entanto, voltou para casa em 15 de julho, quando o programa foi encerrado. A iniciativa tinha como objetivo isolar idosos que moram em casas com alto risco de contágio pela doença (saiba mais abaixo).
Joana morava em uma casa com 13 pessoas e, por isso, ingressou no projeto em maio. Ela foi internada em 25 de julho, passou pelo Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e, em 5 de agosto, foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante.
A idosa era hipertensa, diabética e já tinha sofrido dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs). O coronavírus afetou gravemente o pulmão de Joana, que perdeu 50% da capacidade respiratória.
A aposentada Mariza Fonseca Gomes a conheceu no programa e disse que a amiga tinha medo de se contaminar dentro de casa.
“Ela gostava de ficar fazendo as orações dela, o terço. Era uma pessoa assim, fora de série e tinha muito medo de pegar a doença quando saísse”, afirmou Mariza.
Programa de hotelaria
No dia 22 de abril, 300 idosos foram hospedados em hotéis no Distrito Federal por conta da pandemia do coronavírus. A iniciativa tinha como objetivo proteger pessoas de baixa renda e acima de 60 anos – consideradas do grupo de risco para a Covid-19.
Eles passaram três meses em isolamento e com assistência médica no local. Em 21 de julho, os idosos tiveram que voltar para casa. Segundo a Secretaria de Justiça do DF, o contrato para o programa foi encerrado.
Em nota, a pasta informou que o período de 90 dias foi usado para “trabalhar a saúde física, o psicológico, e o emocional do grupo atendido, de modo que pudessem viver essa nova realidade com segurança e conhecimento”.
“Todas as instruções e palestras guiaram os idosos para seguir à risca, após a saída do programa, os mesmos protocolos de segurança estabelecidos nesses dias”, diz trecho do comunicado. “Hoje, eles retornam para suas casas mais informados sobre a doença, cientes de quais instruções seguir para evitar o contágio e confiantes sobre seu papel na sociedade.”
73% das vítimas são idosos
Até esta quarta-feira (12), 1.214 idosos haviam morrido pela Covid-19 no Distrito Federal. Do total de 1.838 vítimas registradas até o início da tarde, 73% tinham mais de 60 anos.
A infectologista Eliana Bicudo explica que as pessoas acima de 65 anos têm um sistema imune enfraquecido. “Os vasos arteriais envelhecem, nossos ossos envelhecem e o sistema imunológico, aquele sistema que produz anticorpos, também envelhece”.
“Ao envelhecer, ele fica mais lento para responder. Então com isso, enquanto você jovem frente a um vírus responde rapidamente, ou seja, aquele anticorpo rapidamente chega lá para grudar no vírus e tentar destruir, no indivíduo idoso a reposta é lenta”, afirma Eliana.
A infectologista afirma ainda que é importante o uso de máscara, mesmo dentro de casa, se o idoso estiver compartilhando o mesmo ambiente com outras pessoas. Segundo ela, também é recomendável deixar as janelas abertas para melhorar a circulação de ar no local.