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segunda-feira, 23/12/24
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Impeachment muda rotina de Brasília neste final de semana

Com pistas fechadas e um calor infernal, o centro da capital do país mudou. Muita gente a pé e de bicicleta, e muito engarrafamento. Nos acampamentos governista e oposicionista, mais pessoas são esperadas para chegar até amanhã.

Breno Fortes/CB/D.A Press
Com as vias fechadas, centenas de trabalhadores tiveram que caminhar

 

O brasiliense acordou mais cedo com o desafio de driblar os gargalos que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff impôs à capital federal. A Esplanada dos Ministérios está fechada. Houve intervenções no transporte público. O trânsito parou. Ontem, o dia ficou marcado por atrasos no trabalho e muita caminhada sob calor de 30ºC. No acampamento do grupo governista, próximo ao Estádio Mané Garrincha, integrantes organizavam as doações de alimentos e água. Do outro lado, oposicionistas articulavam a vinda de mais pessoas para o protesto de hoje. E teve até promoção: um hotel, em Taguatinga Sul, oferece desconto a quem for contrário ao governo.

A dificuldade maior veio com o trânsito interrompido — as vias S2, N2, L4 e os eixinhos Sul e Norte, no início da manhã, formaram um cenário caótico. Pedestres, bicicletas e carros dividiam o mesmo espaço. “O trajeto que faço, normalmente, em 10 minutos, terminei em 40. Isso atrapalha muito meu trabalho”, reclamou o taxista Nilson Castelo, 37 anos. O motorista de ônibus Douglas Souza, 28, demorou 1h10 para chegar a São Sebastião. “Está um caos”, resumiu.

Quem estava no laço do horário se viu obrigado a caminhar — como Jamile Nara Santos, 25; Diene Batista, 28; e Marts Frank, 34. Após esperarem um ônibus circular por mais de 50 minutos, decidiram ir andando ao trabalho. “Já são mais de 30 minutos de atraso”, explicou Diene, moradora de Taguatinga. “Venho ao trabalho de carro, mas depois que li sobre o fechamento, escolhi vir de bicicleta”, relatou Diogo Antunes, 28, morador do Cruzeiro. Já Ricardo Luiz da silva, 25, usou um skate para melhorar o deslocamento. “Pego, diariamente, o circular, mas hoje saí de casa sabendo dessa mudança”, argumentou o servidor do Ministério da Agricultura.

O advogado cearense Paulo Macedo, 26, veio de Fortaleza para acompanhar os protestos. O jovem não conhecia Brasília e estranhou como ficou a organização da cidade. “Até as pessoas que moram aqui estão confusas. As grades e o muro serão necessários para a segurança, mas as outras intervenções deixaram o dia estranho”, avaliou. Shoppings, praças de alimentação, feiras e até a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto mostravam esvaziamento significativo. “Se hoje está assim, imagina na segunda-feira? O desfecho da votação vai alterar ainda mais o cenário da cidade”, ponderou o auxiliar de design Max Silva, 24, morador de Taguatinga. No início da noite, houve protestos na Esplanada dos Ministérios.

Em Taguatinga Sul, o Hotel Nobile Plaza oferece desconto de até 50% a hóspedes que vieram a Brasília acompanhar as manifestações. Para participar da promoção é preciso ser pró-impeachment. O quarto, que custaria normalmente R$ 169 em um fim de semana, está saindo por R$ 80. O preço cai ainda mais se o número de pessoas a se instalar for grande. “Estamos tentando driblar a crise. É uma alternativa para não fechar as portas”, diz Gilberto Alves Júnior, dono do comércio.

Acampamentos

 O grupo pró-governo espera a chegada de mais 50 mil pessoas de 20 estados entre hoje e amanhã. Os contrários estimam que outras 10 mil também chegarão à cidade. As forças de segurança calculam pelo menos 300 mil manifestantes. Na pauta de ambos os movimentos, a preocupação com a violência e o extremismo. Um repórter espanhol questionava os “os riscos de uma luta sangrenta” durante a votação do processo.

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