Fraudes na Prefeitura de Ribeirão Preto poderiam se estender a Diadema (SP). Escutas telefônicas obtidas pela EPTV trazem reunião entre réus do processo.
O dono da empresa Atmosphera, Marcelo Plastino, e aliados do empresário no esquema de fraudes em contratos com a Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) planejavam ampliar os desvios em licitações a outras cidades do estado de São Paulo, segundo as investigações da Polícia Federal (PF). Os advogados dos investigados não comentaram a denúncia.
Em escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça e obtidas com exclusividade peloJornal da EPTV 1ª Edição, o advogado Sandro Rovani e o ex-presidente do Sindicato dos Servidores, Wagner Rodrigues, conversam sobre uma reunião com outro empresário deDiadema, na Grande São Paulo.
Para a PF, a conversa indica a ampliação do esquema de terceirização feito pela Atmosphera com a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp) para outras Prefeituras.
Escuta telefônica
Na transcrição da conversa, Rodrigues afirma que a reunião “foi boa pra caramba” e Rovani concorda, dizendo que Marcelo Plastino queria ficar mais próximo do ex-presidente do sindicato. Rodrigues continua a conversa e diz que a proposta feita no encontro “seria boa para todo mundo”.
Wagner Rodrigues: “Ô Sandro, mas essa forma é o sonho de consumo deles, né cara?”
Sandro Rovani: “Claro! Ô! Essa é a ideal”
A conversa continua e Rovani diz que o Marcelo Plastino viajaria e que quando retornasse colocaria o empresário para falar com uma pessoa de Diadema, porque “o cara é empresário, os dois conversando junto é outro departamento”.
Sandro Rovani: “O Marcelo é bom, porque ele é um pouquinho diferente, porque ele joga mais pesado, entendeu?”
Wagner Rodrigues: “Mas ele tá com o controle, né Sandro?”
A pessoa citada pelo advogado Sandro Rovani não foi identificada nas investigações da Polícia Federal.
Atmosphera
A empresa de Marcelo Plastino era uma das que mais recebia dinheiro da Prefeitura de Ribeirão Preto, em contratos de terceirização de serviço, que somente em 2016 chegaram a R$ 27 milhões.
Segundo as investigações do Gaeco e da PF durante a primeira fase da Operação Sevandija, a Atmosphera funcionava como um “cabide de empregos” para pessoas indicadas por vereadores em troca de apoio político.
A empresa chegou a empregar 586 funcionários, a maioria terceirizado ao poder público. Após o início da operação, a administração encerrou os contratos e os empregados foram demitidos.
Os funcionários atuavam em diversas áreas, como cemitérios, escolas, secretarias e no Poupatempo. Após as demissões, a Prefeitura convocou aprovados em concursos públicos, mas o número foi insuficente e o atendimento de alguns serviços foram reduzidos.
Marcelo Plastino
Considerado um dos principais envolvidos no suposto esquema de pagamento de propina e indicação de funcionários terceirizados na Prefeitura de Ribeirão, Marcelo Plastino ficou conhecido por marcar “cafezinhos” com vereadores.
Para a Polícia Federal (PF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a palavra era uma espécie de código para designar encontros onde os suspeitos tratavam de assuntos políticos e os parlamentares recebiam altos valores em dinheiro.
A defesa de Plastino informou que todos os fatos serão esclarecidos no decorrer do processo.
Sandro Rovani
Já o advogado do Sindicato dos Servidores Municipais Sandro Rovani da Silveira Neto é suspeito de participar de um “rateio ilegal” de honorários devidos à ex-advogada da entidade Maria Zuely Alves Librandi, também investigada na Sevandija, em processo movido contra a Prefeitura em nome de trabalhadores.
Inicialmente, a PF e o Gaeco suspeitavam que agentes públicos responsáveis por liberar os pagamentos do acordo judicial exigiam que Maria Zuely pagasse propina para receber os valores que lhe cabiam.
Entretanto, a partir dos novos documentos apreendidos, a investigação concluiu que o acordo só ocorreu porque as partes envolvidas fizeram um acerto prévio, dividindo o valor total dos honorários que seriam recebidos por Maria Zuely: cerca de R$ 69,9 milhões.
O advogado de Rovani nega envolvimento do cliente no esquema.
Presos desde o início da Operação Sevandija, Plastino e Rovani foram soltos no dia 6 de outubro, depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas corpus em caráter liminar aos réus.
Wagner Rodrigues
O presidente afastado do Sindicato dos Servidores de Ribeirão e ex-candidato à Prefeitura nas eleições deste ano, Wagner Rodrigues, também é investigado por envolvimento no esquema.Ele não foi preso e chegou a prestar depoimento à Polícia Federal.
O advogado que defende Rodrigues, Daniel Rondi, informou que o processo corre em segredo de Justiça e por isso não poderia comentar.
Já a administração municipal informou que abriu sindicãncia interna para apurar possíveis irregularidades em todos os contratos fechados entre a Coderp e a empresa Atmosphera.