No acumulado de 12 meses até setembro, o IPCA teve alta de 4,53%, contra alta 4,19% do mês anterior, superando o centro da meta do governo
Rio de Janeiro/São Paulo – Os preços de combustíveis e alimentos pressionaram em setembro e a inflação oficial no Brasil voltou a superar o centro da meta oficial em 12 meses pela primeira vez em um ano e meio, embora isso não deva pressionar o Banco Central a elevar a taxa básica de juros diante do desemprego elevado e da recuperação econômica lenta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,48 por cento em setembro depois de variação negativa de 0,09 por cento em agosto, segundo os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a leitura mais alta para o mês de setembro desde 2015 (+0,54 por cento) e ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,41 por cento. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses acelerou a 4,53 por cento, de 4,19 por cento até agosto e estimativa de 4,45 por cento. O resultado é o mais elevado desde os 4,57 por cento registrados em março de 2017 e também superou o centro da meta de inflação –de 4,50 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos– pela primeira vez desde a mesma data. “No início do ano, ficar abaixo do centro da meta parecia claro. Agora estamos num momento de incerteza e de eleição que pressiona os preços. Temos que ver os últimos três meses do ano”, disse à Reuters o economista do IBGE Fernando Gonçalves. “Ao longo dos últimos meses emergiram pressões como safra menor, greve de caminhoneiros, dólar mais alto e combustíveis mais caros. A alta está dentro da dinâmica esperada”, completou. Os principais impactos para o resultado de setembro do IPCA em setembro vieram dos grupos Alimentação e bebidas e Transportes, que representam cerca de 43 por cento das despesas das famílias. Ao subir 1,69 por cento, Transportes apresentou a maior variação no mês, após queda de 1,22 por cento em agosto, registrando a maior alta para um mês de setembro desde o início do Plano Real em 1994. O principal responsável por isso foram os combustíveis, que subiram 4,18 por cento em setembro após deflação de 1,86 por cento em agosto. No mês, a gasolina subiu 3,94 por cento, o etanol avançou 5,42 por cento e óleo diesel teve alta de 6,91 por cento. Já os preços de Alimentação e bebidas passaram a avançar 0,10 por cento em setembro após dois meses de quedas. Enquanto a alimentação no domicílio ficou estável, a alimentação fora subiu 0,29 por cento. Apesar da alta vista no mês passado no IPCA, o desemprego elevado diante de uma economia que encontra dificuldades para engatar vem contendo a demanda e refreando a inflação, mesmo diante da recente desvalorização do real. O BC vem afirmando que o grau de repasse cambial ao aumento de preços tende a ser atenuado pela ancoragem das expectativas de inflação, atividade econômica fraca e ociosidade das empresas, e que só reagirá com alta dos juros caso veja piora no cenário para a inflação. Em sua última reunião de política monetária, o BC manteve a taxa básica de juros em 6,5 por cento.