A Justiça de São Paulo determinou na segunda-feira, 29, que 10 empresas e 7 pessoas ligadas ao grupo Golin sejam responsabilizadas pelos danos causados a 32 mil investidores das Fazendas Reunidas Boi Gordo. Com isso, a sentença confirmou uma liminar que no ano passado bloqueou cerca de R$ 3 bilhões de bens, que deverão ser usados para pagar os credores da Boi Gordo.
O périplo na Justiça paulista já dura mais de dez anos e mesmo com a decisão de ontem os credores ainda terão de aguardar para que possam recuperar parte do que perderam. Isso porque o grupo que foi responsabilizado na segunda-feira ainda pode recorrer da decisão. De qualquer forma, o presidente da Associação dos Credores Boi Gordo, Rodrigo Garcia, diz ter sido uma vitória importante para que sejam pagos os mais de R$ 4 bilhões que são devidos aos credores.
De acordo com a decisão, a que a reportagem teve acesso, o juiz Marcelo Barbosa Sacramone entendeu que ficou comprovada uma série de desvios feitos pelo grupo controlador (e por terceiros) de ativos da Boi Gordo, prejudicando os credores. Segundo o juiz, uma das formas de esvaziar o patrimônio era por meio de empréstimos concedidos a empresas e pessoas sem qualquer remuneração ou garantia e tampouco qualquer demonstração de que os pagamentos eram depois realizados. Além disso, também havia simulação no arrendamento das fazendas pelo Grupo Golin.
Os acusados tentaram se defender alegando uma série de problemas processuais, contestaram a regularidade da busca de ativos feita pela empresa OAR, contratada pela massa falida para rastrear ativos dos controladores, e ainda alegaram que não havia provas de que foram cometidos atos ilícitos pelo grupo Golin ou as empresas e pessoas ligadas a ele.
O juiz, no entanto, desconsiderou esses pedidos. Também negou a produção de novas provas, pois entendeu que a prova documental que está sendo requerida deveria ter sido apresentada quando houve contestação ao pedido de bloqueio de bens. O jornal O Estado de S. Paulo tentou contato com advogados e pessoas ligadas ao grupo, sem sucesso.
Fazendas
O caso das fazendas Reunidas Boi Gordo vai se aproximando de um desfecho ao mesmo tempo em que a rede Globo reprisa a novela Rei do Gado, que indiretamente impulsionou os negócios na década de 90.
Durante o intervalo da novela, um comercial chamava a atenção: “Quem tem cabeça investe em gado”. Nessa toada, as fazendas atraíram até mesmo artistas famosos, atletas e políticos para seu leque de investidores. Eles aplicavam o dinheiro e após 18 meses receberiam o lucro da venda do boi já engordado. A promessa era de mais de 40% de rendimento.
A empresa pediu concordata em 2001, em meio a acusações de que havia um esquema de pirâmide. O criador da empresa foi Paulo Roberto Andrade, que em 2003 vendeu o controle para o grupo Golin, que está sendo agora responsabilizado pelos prejuízos aos credores.