Premiê é escolhido após explosão que matou mais de 180 pessoas e fez o antigo governo renunciar. Diplomata terá o desafio de reorganizar um país em colapso
Em meio a uma crise sem precedentes, o Líbano escolheu seu novo primeiro-ministro nesta segunda-feira, 31. O nomeado é o embaixador na Alemanha, Mustapha Adib, que recebeu o maior número de votos nas consultas parlamentares. Aidb se comprometeu a nomear um ministério técnico e fazer reformas no Líbano.
O Líbano tem um primeiro-ministro e um presidente, Michel Aoun, que é chefe de Estado e organizou a sucessão do premiê.
A nomeação de Adib, de 48 anos, foi comunicada na televisão estatal hoje. O novo primeiro-ministro se reuniu em seguida com o presidente Aoun e o porta-voz do Parlamento, Nabih Berri.
O novo premiê se comprometeu a formar “em tempo recorde” um ministério de “especialistas competentes”, para aplicar as “reformas” que os cidadãos aguardam há tanto tempo.
“A tarefa que aceitei se baseia no fato de que todas as forças políticas são conscientes da necessidade de formar um governo em tempo recorde e de começar a a aplicar as reformas, tomando como ponto de partida um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, afirmou em um discurso exibido na televisão.
O premiê libanês anterior, Hassan Diab, renunciou após a devastadora explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto, que provocou pelo menos 188 mortes. A tragédia no porto levou a uma série de protestos em massa no país vive uma de suas maiores crises econômicas da história.
Também pesou contra o governo de Diab (e de seus antecessores) o fato de que a existência do material explosivo no porto já havia sido comunicada ao governo há anos, mas o Estado não tomou providências.
Crise econômica, guerra civil e coronavírus
Adib terá de usar suas habilidades como diplomata para tirar o Líbano de um colapso. O país vive uma mescla entre a crise econômica, as desavenças religiosas e políticas entre as alas da população e o próprio avanço do coronavírus.
O país tenta evitar uma alta no contágio de casos de coronavírus, que vêm crescendo no Líbano nas últimas semanas. Os hospitais do país estão lotados por causa da explosão e o avanço da covid-19 nesse momento seria insustentável.
Com uma dívida que chega a 170% do PIB, o Líbano não tem mais recursos nem para pagar as suas próprias contas de energia, telefone e internet. Sem dólares para importar combustível, os moradores da capital Beirute também sofrem com falta de energia.
As estimativas apontam que a economia do Líbano deve encolher 12% neste ano em meio à crise do coronavírus. Caso as previsões se confirmem, será um dos piores resultados desde a guerra civil (1975-1990), marcada por conflitos entre libaneses de diferentes religiões e invasões territoriais de Israel.
O conflito com Israel também oficializou uma divisão de poder que perdura até hoje no Líbano. Ficou definido que o presidente seria sempre cristão, o primeiro-ministro, um muçulmano sunita (a corrente majoritária do islã), e o porta-voz, um muçulmano xiita.
É também neste cenário que o presidente Michel Aoun disse neste domingo, 30, que chegou a hora de declarar o país um “estado laico”. Assim, uma reforma constitucional pode estar em vias de acontecer, mas precisará de muitos acordos políticos entre as diferentes alas políticas e religiosas do país.
Após a explosão, a comunidade internacional também aumentou a pressão sobre os políticos libaneses para que adotem um programa ambicioso de reformas políticas e econômicas.
O Líbano tem de lidar ainda com o alto fluxo de refugiados que recebeu diante das guerras nos países vizinhos. Só de refugiados da Síria foram mais de 1,5 milhão de refugiados — uma fatia alta para a população de cerca de 7 milhões de libaneses.
(Com AFP)