Letícia Sousa Curado Melo desapareceu em 23 de agosto de 2019. Crime levou à descoberta de uma dezena de vítimas do cozinheiro Marinésio do Santos Olinto.
Neste domingo (23), a morte da funcionária do Ministério da Educação (MEC) Letícia Sousa Curado Melo, de 26 anos, completa um ano. Doze meses depois, não há previsão para o julgamento do cozinheiro Marinésio do Santos Olinto, chamado de “maníaco em série” por investigadores.
Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, “devido a trâmites processuais que precisam ser cumpridos, ainda não há data definida para a realização do júri”.
Letícia foi a primeira vítima confirmada de Marinésio. O corpo da advogada foi encontrado no dia 26 de agosto, três dias depois do desaparecimento dela. O caso levou à descoberta de pelo menos uma dezena de vítimas de estupro pelo cozinheiro, acusado também pela morte de Genir Pereira de Sousa, de 47 anos (entenda abaixo).
O caso Letícia
A advogada morava na região do Arapoanga com o marido e o filho, de 3 anos. Ela saiu de casa por volta das 7h do dia 23 de agosto de 2019. A família começou a se preocupar com o desaparecimento depois que Letícia não apareceu para almoçar com a mãe – elas haviam combinado de se encontrar ao meio-dia.
A polícia começou as buscas na mesma noite. As imagens de um circuito de segurança mostraram o momento em que a advogada entrou em um carro, uma Blazer prata, às 7h42, em uma parada de ônibus perto de casa.
A investigação usou outras câmeras e o sistema de GPS do celular de Letícia Curado para traçar a provável rota do veículo. A partir daí, também foi possível identificar que o motorista era o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto.
Ele confessou o crime e foi preso no dia 25 de agosto. Disse que, no meio do caminho, assediou a advogada sexualmente e ela rejeitou os avanços. No dia seguinte, Marinésio levou os policiais ao local onde estava o corpo, à beira da DF-250, em Planaltina, e disse que enforcou Letícia.
Outros crimes
Após a prisão, Marinésio também confessou o homicídio da empregada doméstica Genir Pereira de Sousa, de 47 anos. Ela desapareceu no dia 2 de junho e o corpo foi encontrado dez dias depois.
Assim como Letícia, Genir foi vista pela última vez enquanto caminhava até uma parada de ônibus. Câmeras de segurança flagraram o momento em que a empregada doméstica deixava a casa da patroa, no Paranoá.
A patroa de Genir era dona de uma pizzaria e foi quem comunicou o sumiço da empregada. Segundo a empresária, em 15 anos de trabalho, Genir nunca havia faltado sem avisar.
Com a divulgação da imagem do cozinheiro, uma série de outras mulheres passou a procurar a polícia para denunciar Marinésio por uma sequência de crimes sexuais. Daí, os investigadores passaram a chamá-lo de “maníaco em série”.
Segundo o delegado Fabrício Augusto Paiva, chefe da 31ª Delegacia de Polícia, que trabalhou nas investigações, o caso foi complexo. “Com muito trabalho de dedicação e metodologia de inteligência conseguimos chegar ao autor Marinésio.”
“Nós da polícia temos convicção que o poder judiciário irá mantê-lo preso durante um bom tempo. Ele demostrou bastante frieza durante as investigações que se sucederam depois do caso da Letícia.”
Um levantamento feito pelo Ministério Público do DF localizou pelo menos 10 processos relacionados a Marinésio, envolvendo 11 vítimas.
Quatro das investigações são inquéritos policiais, ou seja, ainda não houve apresentação de denúncia à Justiça. De acordo com o MP, as outras seis apurações estão mais avançadas e aguardam o fim dos processos.
Uma das denúncias, referente ao caso de Genir Pereira, é de homicídio qualificado. Há ainda outras quatro de estupro e uma de sequestro e cárcere privado. Como são crimes que envolvem violência sexual contra mulheres, todos os processos estão em sigilo.
Em maio, o cozinheiro recebeu a primeira punição da Justiça do Distrito Federal. Ele foi condenado a 10 anos de prisão por estuprar de uma jovem de 17 anos na região do Paranoá. A sentença condenatória também está em segredo.
Marinésio na Papuda
Marinésio dos Santos Olinto responde a, pelo menos, cinco processos na Justiça do DF sobre abusos sexuais e feminicídios — Foto: TV Globo/Reprodução
Preso há um ano, Marinésio está na Penitenciária do Distrito Federal I (PDFI), no Complexo da Papuda, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seape-DF). Ao G1, o advogado dele, Marcos Venício Aredes, disse que a defesa agora tenta “desmistificar a ideia que foi criada de que ele é um maníaco, um monstro!”
“A defesa está atuando no sentido de que ele venha a pagar pelo que fez, e não pelo que estão dizendo que ele fez. Por exemplo, ele não estuprou a vítima [Letícia]. O laudo pericial e as respostas dadas pelos peritos provam isto, mas mesmo assim o promotor insiste em pedir a condenação dele por mais este crime. Outro ponto é a exclusão de algumas qualificadoras, entre elas a do feminicídio.”
Ainda de acordo com o advogado, “a defesa quer que ele tenha uma pena justa, na medida da sua culpabilidade, nem mais nem menos”.
O cozinheiro cumpre pena em uma ala destinada aos internos que cometem crimes sexuais, onde divide uma cela com mais 12 internos. Segundo a Seape, esses detentos “são separados da massa carcerária, a fim de preservar a integridade física [deles]”.
Conforme a Secretaria de Administração Penitenciária, a última visita presencial que o cozinheiro recebeu foi em março de 2020. Devido à pandemia do novo coronavírus, as visitas estão suspensas no sistema penitenciário do DF.