Carros, robôs, aviões e dinossauros também são doados para amigos. Peças são fabricadas a partir de madeira, papelão e materiais quebrados.
Por não ter dinheiro para comprar jogos quando criança, o mecânico Willian César Martins, de 41 anos, desenvolveu uma aptidão para transformar sucatas em brinquedos. O morador de Ceilândia, no Distrito Federal, já construiu mais de 300 peças, a partir de arame, madeira, caixas de papelão e até de palitos de dente. Todas as “criações” são doadas para crianças carentes ou para adultos apaixonados por carros e personagens fictícios.
Desde então, ele diz que foi se aprimorando, dando atenção maior aos detalhes e à estrutura das peças. “Só de olhar para foto de um carro, por exemplo, eu consigo reproduzi-lo perfeitamente.”
O mecânico nunca fez nenhum curso de especialização. Segundo ele, o brinquedo mais difícil de construir foi um avião que mede mais do que altura de uma pessoa. A peça demorou três dias para ser “fabricada”.
“O boeing era bem grande, 2 dois metros. Dividi o brinquedo em duas partes, ele se desmembrava todo, ficou bonito. Dei para uma colega que era apaixonado por aviões.”
Martins ressalta que não vende as peças, nem pensa na possibilidade. Ele prefere doá-las. “Penso nas crianças que passam pelo que eu já passei. Por nenhum dinheiro do mundo venderia os brinquedos. No Natal, por exemplo, doei carrinhos inspirados na Fórmula 1. É um hobby que cultivo, que me deixa feliz e calmo.”
Os brinquedos são feitos durante o período de almoço, que dura duas horas. Ele trabalha de 8h às 18h em uma oficina mecânica em Vicente Pires. O interesse pelos carros surgiu desde criança.
“Meus amigos brincavam na rua com aqueles carrinhos de plástico, sabe? Para não passar vontade, construía um 10 vezes maior. Não acredito que tenho um dom. Meu avô era artesão e eu posso ter me insipirado nele.” Martins também constrói robôs, dinossauros, casinhas de boneca e animais. O segredo é ter interesse, empenho e dedicação, diz. As sucatas são encontradas nas ruas ou doadas por comerciantes.
“Meu gasto é pouco. Compro tubos de cola quente e fitas adesivas. O que vale mesmo é o sorriso de uma criança, aquela felicidade que ninguém consegue exemplificar. Esses dias mesmo, encontrei um farol de bicicleta quebrado e o transformei em uma peça importante para o carro.”(veja abaixo)
Clientes
Dênio Dumont, de 45 anos, é um dos que já pediram brinquedo de presente para o mecânico. Ele quer uma carreta azul, inspirada em uns dos modelos de seus carros preferidos. Para Dumont, o trabalho do “criador de brinquedos” é árduo e merece ser respeitado.
“Ele [Martins] é uma inspiração. Eu não conseguiria fazer isso, não tenho paciência. Já mandei a foto do brinquerdo que quero. Sei que Willian conseguirá fazer com excelência. Não vejo a hora da carreta estar pronta. Quero levá-la para casa.”
Martins também conta que não se importa com coisas materias. Segundo ele, as verdadeiras emoções estão nas pequenas coisas. “Meu carro mesmo, por exemplo, foi apreendido pelo Detran. Estou há algum tempo andando de carro emprestado e sei que vou depender de ônibus no futuro. Infelizmente não tenho dinheiro para recuperar o veículo. Porém, existem coisas piores na vida.”