Um remédio para artrite reumatoide conseguiu reverter a calvície causada por problema autoimune
Um medicamento para artrite reumatoide pode ser a solução para acabar com a calvície. De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico Journal of Clinical Investigation Insight, pacientes com alopecia areata, uma doença auto-imune que provoca a queda de pelos, incluindo o cabelo, submetidos a um tratamento com Xeljanz, prescrito para pessoas com artrite reumatoide, outra doença auto-imune, conseguiram recuperar o crescimento do cabelo.
No estudo, pesquisadores das universidades de Stanford e Yale, ambas nos Estados Unidos, prescreveram um tratamento com Xeljanz para 66 pacientes com alopecia areata. Durante três meses os participantes tomaram duas doses por dia de 5 mg do medicamento. Após esse período, mais de 50% dos pacientes apresentaram crescimento do cabelo e um terço deles conseguiu recuperar mais da metade do cabelo perdido até então. Em outro estudo, dos 12 pacientes com o mesmo problema tratados com um medicamento similar aprovado para câncer, nove recuperaram mais de 50% do crescimento do cabelo, segundo informações da rede americana CNN.
Segundo Brett King, professor assistente de dermatologia da Escola de Medicina de Yale e um dos autores do estudo, o Xeljanz parece funcionar ao frear o ataque do sistema imunológico aos folículos pilosos. Na pesquisa os investigadores conseguiram identificar também alguns genes que podem prever a resposta do paciente ao tratamento.
“Há esperança agora que temos mais o que dizer aos pacientes além de ´compre uma peruca e vá fazer terapia´”, disse o pesquisador. Apesar dos resultados, King ressalta que ainda não é possível afirmar que esse método também seja eficaz no tratamento de tipos mais comuns de calvície nem se o crescimento de cabelo nos pacientes com alopecia areata vai durar.
Mike Thomas (nome fictício) é um desses pacientes. Em meados de seus 40 anos ele foi diagnosticado com alopecia areata e em pouco tempo ficou complemente careca, perdendo até mesmo as sobrancelhas e os cílios. Para Mike, isso foi devastador. Sempre que saía na rua as pessoas olhavam para ele e perguntavam se ele tinha câncer. “Trabalho no ramo imobiliário e sou ativo na minha comunidade, mas comecei a me afastar das pessoas. Ela afeta cada parte de sua vida. Fiquei muito deprimido e foi horrível.”, contou à CNN.
Graças ao novo tratamento, em apenas sete meses Mike conseguiu recuperar a maior parte do seu cabelo e de seus pelos. “É incrível. Estou tão feliz de tê-lo de volta”, disse. Embora tenha voltado a crescer, o cabelo recuperado voltou com as características compatíveis com a de um homem de meia idade, ou seja, com algumas falhas e não estonteante como o de um homem aos 25 anos.
Esperança para a calvície comum
Agora, os pesquisadores estão tentando uma nova solução para esse “problema” que, se der certo, poderá beneficiar homens com tipos mais comuns de calvícies, como a causada pela idade, por exemplo. O método proposto por King consiste em aplicar uma pomada contendo Xeljanz diretamente na cabeça dos homens com alopecia areata.
A saída proposta pelos dermatologistas gera controvérsia e ceticismo. Para King, a pomada não surtirá efeito em calvícies relacionadas à masculinidade. Já Angela Christiano acredita que pode dar certo. A pesquisadora é coautora de um estudo que aplicou uma solução com Xeljanz na pele modificada geneticamente de camundongos para se assemelhar à pele de homens carecas. Na região onde a pomada foi aplicada, houve crescimento de pelos, enquanto do outro lado, não.
A autora ressalta que, apesar dos resultados, existem alguns desafios para repetir o sucesso do tratamento em humanos. Entre eles, as características da pele. Isso porque, em comparação com os camundongos, a pele humana é “muito mais espessa, oleosa e profunda. Além de ter uma camada de gordura” que dificulta a penetração adequada da pomada e precisa ser considerada para a preparação de “uma boa fórmula tópica”.
Para King, ainda vai demorar um pouco para se descobrir um tratamento eficaz para a calvície comum. Isso porque, como é um problema considerado apenas estético – embora traga muitos problemas emocionais para quem o enfrenta – as empresas farmacêuticas não investem muitos recursos no desenvolvimento de novos tratamentos, pois corre o risco das agências reguladoras não aprovarem dependendo dos efeitos colaterais associados.
Por isso, George Cotsarelis, dermatologista da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, está trabalhando com empresas relativamente pequenas no desenvolvimento de terapias com células-tronco para a calvície. “No final, acho que não vão haver várias maneiras de tratar a calvície masculina, e algumas vão funcionar fabulosamente bem em algumas pessoas e não tão bem em outras”, disse Cotsarelis à CNN.