Moraes mistura leveza e ironia durante defesas nos interrogatórios
O ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), adotou um tom descontraído e irônico em diversos momentos da audiência realizada nesta segunda-feira (9/6), no início dos interrogatórios dos acusados na ação penal que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado em 2022. Durante o diálogo com os advogados presentes, Moraes proferiu comentários que provocaram risadas na sala.
O primeiro a depor foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-assistente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele respondeu às perguntas do ministro, do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e de sua defesa. Logo após, os advogados dos outros acusados puderam questionar o militar.
Durante essa etapa, o advogado Demóstenes Torres, representando o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, comentou que preferia não repetir questões já feitas por Moraes e Gonet para economizar tempo.
Esse comentário levou a uma resposta bem humorada do ministro direcionada ao advogado José Luis Oliveira Lima, defensor do ex-ministro Walter Braga Netto. Moraes citou a ordem alfabética das perguntas, que faria com que Lima fosse um dos últimos a falar.
“O duro é o doutor José. Até chegar nele… Cada vez eu vejo ele riscando alguma coisa. Mas vai dar certo”, disse Moraes. Oliveira Lima, conhecido como Juca, respondeu em tom leve: “Tenho várias [perguntas]”.
Na sequência, Demóstenes Torres falou de modo descontraído sobre o estilo direto das perguntas feitas por Moraes em audiências anteriores, onde ele exigia respostas de “sim” ou “não”.
“Infelizmente eu não posso ter meu momento ministro Alexandre de Moraes: sim ou não?”, brincou o advogado. Moraes concordou, e Mauro Cid, ao ser questionado sobre a participação de Garnier em um grupo mais radical próximo ao ex-presidente, respondeu “sim”. O ministro completou: “Feliz? Mais alguma coisa, doutor Demóstenes? Sim ou não?”
“Vai pedir aditamento da denúncia?”
Outro momento informal ocorreu quando o advogado Celso Vilardi, representante de Bolsonaro, apresentou um áudio de Mauro Cid. Na gravação, o militar relata pressão de empresários ao então presidente para interferir em um parecer do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas.
Ele também afirmou que o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) defendeu o uso do artigo 142 da Constituição, que algumas vezes é mal interpretado como justificativa para intervenção militar.
Diante dessas declarações, Moraes questionou: “O senhor vai pedir aditamento da denúncia? Em relação aos empresários e ao Pazuello? Fiquei na dúvida”, referindo-se à possibilidade de ampliar a acusação.
Em outro trecho, Cid descreveu uma reunião militar no fim de 2022 como uma “conversa de bar”. Moraes ironizou essa expressão ao lembrar que havia mensagens entre os participantes combinando levar salgadinhos e refrigerantes.
“Não era bem conversa de bar, né?” comentou o ministro.
Os interrogatórios fazem parte da ação penal que investiga oito réus por uma possível tentativa de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As audiências continuarão na terça-feira (10/6), no Supremo Tribunal Federal.
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