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Morgan Stanley vê inflação elevada em 2021, com mudanças no mercado de trabalho

Segundo o banco, os preços devem sofrer pressão não apenas dos alimentos e de administrados mas também de uma inflação mais elevada no setor de serviços

Morgan Stanley: após o Banco Central abandonar na quarta-feira o “forward guidance”, o Morgan Stanley disse ter antecipado a previsão para o início do ciclo de alta da Selic (NurPhoto/Corbis/Getty Images)

O Morgan Stanley elevou a estimativa de inflação ao consumidor no Brasil em 2021 para 4,2%, ante 3,3% do prognóstico anterior, prevendo, portanto, alta acima da meta central perseguida pelo Banco Central para este ano, de 3,75%.

Segundo o banco, os preços devem sofrer pressão não apenas dos alimentos e de administrados mas também de uma inflação mais elevada no setor de serviços.

Profissionais do Morgan disseram que o “diabo mora nos detalhes”, já que, embora medidas de núcleo estejam rodando em patamares baixos na comparação anual, as taxas anualizadas estão alcançando de 6% a 8%.

“É o mesmo padrão que vemos tanto na inflação de serviços quanto no núcleo da inflação de serviços, o que pode ser um sinal de normalização depois do choque da pandemia”, disseram Thiago Machado e Fernando Sedano em nota.

Na lista de fatores a justificar uma visão de inflação mais alta em 2021 está a expectativa de que os preços das commodities se mantenham em ascensão nos próximos trimestres, afetando a inflação de alimentos via grãos e os preços da gasolina pelo canal do petróleo.

Também integra o conjunto de motivos a revisão de “otimista” para “neutra” na avaliação de estrategistas de câmbio do Morgan Stanley para as moedas da América Latina, com potencial de algum pass-through depois de uma aceleração na inflação de bens comercializáveis no quarto trimestre de 2020.

“Achamos que isso se deve provavelmente a uma combinação de vários fatores, incluindo moeda mais fraca, forte demanda — impulsionada pelo auxílio emergencial — e baixos níveis de investimento, o que tem impacto de alta nos custos de produção devido à fraqueza do câmbio”, afirmaram.

Além disso, Machado e Sedano chamaram a atenção para os níveis dos reservatórios para produção de energia elétrica — segundo eles, em mínimas históricas —, o que pode se traduzir em ajustes maiores nas tarifas de energia elétrica.

Uma outra razão, mais estrutural, para a inflação mais alta é o entendimento de que a alta no desemprego pode não se refletir em níveis contidos nos preços dos serviços.

Segundo eles, a taxa Nairu — taxa de desemprego de equilíbrio, que não exerce pressão sobre a inflação — pode estar mais alta neste estágio, devido a mudanças estruturais associadas à pandemia, que afetou mais o setor de serviços. Isso reforça o caso para uma histerese — a ideia de que recessões podem ter impactos permanentes nas dinâmicas econômica e do mercado de trabalho.

“Quanto mais as pessoas permanecem desempregadas, mais difícil é para elas voltar ao mercado de trabalho. Como resultado, pode-se dizer que a inflação de serviços pode não despencar como sugerido pela alta ociosidade pintada pelos indicadores do mercado de trabalho”, disseram Machado e Sedano.

Uma quinta razão para aumento maior de preços neste ano é a expectativa de que não haja amplas e rígidas medidas de restrição social e econômica.

A projeção para o IPCA de 2022 foi mantida em 3,5%, exatamente o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Após o Banco Central abandonar na quarta-feira o forward guidance, o Morgan Stanley disse ter antecipado a previsão para o início do ciclo de alta da Selic. Sem detalhar qual era o prognóstico anterior, o banco vê agora elevação dos juros em maio, ao ritmo de 0,25 ponto percentual, com a taxa fechando este ano em 3,50% e indo a 5,50% em 2022 — perto do juro neutro estimado pelo banco (6,50%).

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