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Na 1ª noite após aluno ser baleado na USP, estudantes recorrem a caronas

Alunos da Universidade de São Paulo mudaram a rotina na noite desta quarta-feira (2), a primeira após o estudante de Letras Alexandre Simão de Oliveira Cardoso, de 28 anos, ser baleado dentro do campus. Com medo, universitários passaram a andar em grupos e alguns, que iam para casa de ônibus, agora contam com a carona dos pais para voltar para casa.

Alexandre foi baleado nas costas por volta das 21h, em frente ao prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Ele foi operado e passa bem. Três adolescentes suspeitos de cometer o crime foram apreendidos e o secretário de Segurança Pública, Alexandre Moraes, anunciou que o policiamento na universidade vai mudar na próxima segunda-feira (7).

Na noite desta quarta, o clima ainda era de insegurança entre os alunos. Alguns até se arriscavam a andar sozinhos, mas outros preferiam andar ao menos em duplas ou em trios. “Infelizmente existe muito a sensação de insegurança, principalmente pela iluminação precária do campus, muitas ruas têm um matagal muito grande”, diz o estudante de Letras Kyo Kobaiashi. Ele também reclama da falta de uma guarda universitária no campus.

A violência também preocupa os pais dos estudantes. Uma noite após o crime contra  Alexandre, o representante comercial Carlos Roberto Guimarães esperava a filha na saída da faculdade de Letras. “Eu não vinha todos os dias não, mas agora vou começar a vir”, diz ele.

O mesmo aconteceu com outra estudante da faculdade. “Durante cinco anos eu peguei ônibus, seis na verdade. Hoje eu vou com meus pais”, diz Bianca Bigoni. A mãe, Maria Débora Bigoni, também estava na porta e disse que espera que a filha acabe logo a faculdade. “A gente não vê a hora de ela se formar e sair daqui”, desabafou. “Não tem como a gente, como ninguém ficar absolutamente tranquilo em casa sabendo que uma filha tá passando no mínimo por um risco tão grande”.

Disparo
O barulho do tiro disparado por criminosos nesta terça contra o estudante foi ouvido por alunos que estavam dentro da sala de aula. Foi ouvido por alunos que estavam dentro da sala de aula.

“A gente ouviu um barulho de tiro assim muito forte e, quando o pessoal olhou na janela, tinha umas pessoas correndo e um cara de moto que saiu correndo também na moto”, conta Verônica Tozarini, estudante de Letras.

A mãe de outro aluno estava estacionando o carro na hora do crime e viu o estudante sendo baleado. “A gente tava conversando e, de repente, começou a escutar um barulho, um som, parecia tiro. Quando a gente olhou, viu o rapaz correndo na frente dizendo ‘não, não tenho’, falando algo, e dois caras atirando atrás”, conta.

Três adolescentes suspeitos foram apreendidos e encaminhados para a Fundação Casa.

Segundo testemunhas, após ser baleado, Alexandre saiu correndo pedindo socorro e caiu na escada em frente ao prédio da faculdade. Ainda de acordo com testemunhas, a vítima teria reagido ao assalto.

O pai do estudante, o aposentado Alberto de Oliveira Cardoso, estava em uma festa de família quando recebeu a notícia que o filho havia sido baleado.

“Tava comemorando o aniversário do meu filho mais velho e quando, na verdade o sogro dele falou, me ligou, aí deu aquele baque. Aí nós viemos pra cá”, disse. Segundo o aposentado, o filho está fora de perigo após passar por uma cirurgia.

Em nota, a reitoria da USP lamenta profundamente a ocorrência de mais um caso de violência. Garantir a segurança dos usuários do campus tem sido uma das principais metas da administração da universidade.

Prédio da Letras na Cidade Universitária (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)

Novo policiamento
A Secretaria da Segurança Pública anunciou que o novo modelo de policiamento no campus começa na próxima segunda-feira (7), segundo o SPTV.

O novo projeto de segurança para a Universidade de São Paulo (USP) será executado por policiais que tem a mesma faixa etária e formação semelhante à dos estudantes.

Na ocasião do lançamento do modelo de policiamento comunitário, Moraes afirmou que os policiais deverão ser voluntários, com formação universitária, e ficarão trabalhando apenas no campus. A faixa etária preferencial será até os 26 anos.

Na reunião, estava presente José Gregori, da Comissão de Direitos Humanos da universidade. “O projeto não foi rechaçado. Fizemos algumas sugestões e achamos que o modelo americano, por exemplo, é mais próximo da realidade que o japonês”.

O secretário Alexandre de Moraes disse que o modelo americano treina os próprios guardas e que, para que isso seja feito, uma nova lei precisaria ser aprovada. “Os guardas da USP não teriam poder de polícia para fazer a segurança. Aliás, nem a nossa Guarda Municipal tem poder de polícia”.

O patrulhamento deverá ser feito por entre 80 a 120 policiais militares. Segundo Moraes, os policiais estão sendo treinados para o método e terão um colete com identificação diferente, como policiamento comunitário da USP.

Um Conselho Comunitário de Segurança vai atuar dentro do campus e será formado por representantes das polícias Civil e Militar, professores, funcionários e alunos.

Nos últimos anos, uma série de casos de violência e abuso sexual foram registrados dentro da Cidade Universitária e em outros campi da USP e de outras universidades públicas e particulares paulistas. A Assembleia Legislativa chegou a criar uma CPI para investigar os casos.

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