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Não importa o que ache da Dilma: você PRECISA se preocupar quando ofendem ela

ARTE / BOLSA DE MULHER

Dilma Rousseff foi a primeira presidente mulher a assumir o governo executivo no Brasil. Por motivações políticas, no entanto, seu mandato está com alto índice de rejeição, quadro que a colocou como vítima de constantes ofensas. Entre as principais e mais agressivas estão os xingamentos sexistas, que não atingem somente a ela, mas todas as mulheres. Entenda, portanto, por que é possível (e muito importante) manifestar-se contra Dilma sem chamá-la de “puta”, “vadia”, “vagabunda” ou “mal comida”.

Manifestações e protestos

Como em qualquer país democrático, é perfeitamente natural que grupos se manifestem contra o governo – e as motivações são muitas: incompatibilidade de crença em determinado projeto político, discordância com o plano econômico adotado ou até divergência ideológica. E todas as causas são válidas. A presença nas manifestações presenciais, os panelaços ou as correntes nas redes sociais são ferramentas legítimas de expressão em uma democracia. Assim como defender o governo também é um direito de todos que acreditam que esse é o melhor caminho para o país.

Mas, o ponto a ser debatido não é esse. No atual cenário, o que deve ser questionado por todo mundo, mas especialmente pelas mulheres, é a forma como os protestos contra o governo vêm acontecendo. Nas últimas manifestações pró-impeachment, a presidente tem sido atacada pela sua conduta sexual, sendo chamada de “puta”, “vadia”, “mal comida”, “piranha”, “quenga”.

Inclusive, a ONU Mulheres Brasil, setor da Organização das Nações Unidas que trabalha pela igualdade de gênero, publicou uma nota em março condenando essas posturas. “Nenhuma discordância política ou protesto pode abrir margem e/ou justificar a banalização da violência de gênero”, escreveram.

Xingamentos sexistas: o que são e por que não posso usar?

ARTE / BOLSA DE MULHER

Para muitas pessoas, o xingamento é sinônimo de extravasar um sentimento ruim ou de raiva – e superficialmente não há nenhum problema nisso. O que deve ser questionado, no entanto, é o que faz com que uma pessoa escolha por um ou outro adjetivo para ofender o outro ou determinada situação.

Sexismo é quando uma pessoa é inferiorizada por conta do seu sexo. E é por isso que “vadia”, “puta”, “mal amada”, “mal comida”, “quenga” e “vagabunda” são grandes exemplos de xingamentos sexistas que colocam a vida sexual da mulher de forma pejorativa a julgamento público.

Xingar de vaca, puta, vadia, piranha, vagabunda

O machismo é um sistema de desvalorização e violência contra todas as mulheres e, embora a escolha das palavras utilizadas muitas vezes seja inconsciente, ela reforça que a liberdade sexual feminina é uma atitude ruim e condenável. É por isso que proferir adjetivos sexistas reforça a ideia de que a mulher é menos livre ou que aquela que consegue exercer sua sexualidade de forma menos restrita, é promíscua e menos digna de valor e respeito.

Xingamentos a homens também ofendem a mulher

Um fator curioso e preocupante é que o controle da sexualidade da mulher é tão enraizado que até quando a intenção é xingar um homem, ofende-se uma mulher. Para a constatação, basta pensar em quais são os xingamentos utilizados nesses casos. “Filho da puta” e “corno”, por exemplo, são expressões comumente utilizadas em discussões com homens e elas, contraditoriamente, ofendem suas companheiras ou suas mães. Já “quengo”, “vaco ou boi”, “filho do puto” ou “piranho” são inexistentes, enquanto “vagabundo”, que é usado para os dois casos, adota significados completamente distintos.

Puta não é xingamento

Além de reforçar a inferiorização da liberdade sexual feminina, determinados xingamentos sexistas ainda reforçam que algumas atitudes ou comportamentos da sexualidade de uma mulher interferem em outros tipos de condutas.

Exemplo é o “puta”. Mesmo que uma mulher seja, de fato, uma garota de programa, isto não a torna inferior ou desumana, menos inteligente e tampouco indigna de respeito – e, portanto, não é seu comportamento sexual que a torna incapaz de nada, nem mesmo de governar um país, se fosse o caso.

Então eu não posso me manifestar?

MARIO TAMA / STAF / GETTY IMAGES

Mas, é claramente possível se posicionar contra a uma situação sem que para isso o pressuposto esteja relacionado ao fato de um dos envolvidos ser mulher.

Por isso, é essencial o exercício da argumentação. No caso da oposição ao governo, por exemplo, uma saída é dizer que a presidente adota um plano econômico ou social diferente daquele que você acredita ou que escolheu uma estratégia ineficiente para governar. As opções não soam ofensivas e são mais inteligentes e construtivas.

Outros palavrões

Mas, vale ressaltar que os xingamentos sexistas não são os únicos descabidos. Usar adjetivos que façam referência negativa à orientação sexual ou à aparência de uma mulher, como “sapatão”, “feia” e “gorda” também é problemático já que, nesse caso, associa a capacidade de governar com as características físicas, aspectos que não têm nenhuma relação.

Por que eu devo parar de xingar outra mulher?

BUDA MENDES / STAFF / GETTY IMAGES E ARTE / BOLSA DE MULHER

A grande consequência deste comportamento é que ele resvala em qualquer mulher e a vítima também é você. Isto porque, por mais que estejamos em contextos completamente diferentes e ajamos de formas distintas, não há como garantir que, enquanto a sociedade usar a conduta sexual feminina como controle negativo das suas atitudes, não seremos todas atingidas.

Independentemente de quem somos, do comportamento que adotamos, da posição política que reivindicamos ou da ideologia que acreditamos, é importante saber sempre se colocar no lugar da outra e lembrar que tudo o que atinge a ela, pode nos atingir também – se uma mulher fica para trás, todas as outras ficam junto.

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