Longe da família, confinados em pequenos quartos e sem condições de trabalhar, muitos sobrevivem graças aos bancos de alimentos
A pandemia de coronavírus deixou milhares de estudantes estrangeiros na França à beira da pobreza. Longe da família, confinados em pequenos quartos e sem condições de trabalhar, muitos sobrevivem graças aos bancos de alimentos.
Antes de chegar a Paris, sabia que seria difícil, mas a pandemia complicou tudo”, disse à AFP Jesús Alejandro, um venezuelano de 24 anos que chegou a Paris em março para cursar mestrado em Engenharia Mecânica.
Antes da pandemia, este jovem procedente de La Grita, no estado de Táchira (oeste da Venezuela), trabalhava meio-período em um restaurante fast-food para poder financiar seus estudos. Mas devido ao confinamento ficou sem emprego.
Manuella, uma brasileira de 35 anos que cursa um doutorado em Filosofia em Paris, sobrevive graças a suas economias. Ela perdeu o emprego como dançarina, que era sua principal fonte de renda, com o fechamento dos restaurantes e bares.
“Nós, os estudantes estrangeiros, somos os grandes esquecidos desta crise”, disse a brasileira de cabelos vermelhos, que reclama da falta de ajuda do governo francês, assim como do Brasil.
“A única ajuda que recebo é do ‘Restos du coeur'”, suspira, em uma referência a distribuição de alimentos que a associação francesa organiza toda quarta-feira em seu campus universitário.
As associações de ajuda alertam há meses sobre uma explosão do número de pedidos de ajuda de estudantes, sobretudo estrangeiros, muitos deles desempregados devido às medidas de confinamento.
Morgane Saby, diretora de uma unidade parisiense do Socorro Popular Francês, estima que os pedidos de ajuda por parte dos estudantes universitários “triplicaram três desde setembro”.
“A maioria vem da África Subsaariana e do Magreb, mas também temos alguns sul-americanos”, disse à AFP.
“A situação é particularmente difícil para os estudantes estrangeiros porque muitos ficaram sem trabalho e deixaram de receber ajuda de suas famílias, também sufocadas pela crise da covid”, pondera Laurence Marion, delegada-geral do campus universitário internacional de Paris.
Amna, una tunisiana de 29 anos, teve que deixar seu orgulho de lado e pedir ajuda pela primeira vez em sua vida para poder alimentar-se. “Não quero que me vejam como uma mendiga”, disse a jovem.
Com a suspensão de todas as obras de construção em março devido ao confinamento, esta estudante de Engenharia Civil perdeu um estágio em uma empresa que lhe garantia uma renda mensal e teve que aceitar um trabalho de caixa. “Foi o primeiro que me apareceu”, explica.