Governo da Índia estima que a capital terá 550 mil casos de coronavírus até o final de julho, cerca de 13 vezes mais do que atualmente
A capital da Índia está prestes a ficar sem leitos hospitalares em meio a um aumento de casos de coronavírus, e mostra dificuldade para conter a pandemia desde que críticos disseram que o país fez muito pouco para se preparar e que reabriu shoppings centers e templos cedo demais.
Algumas famílias de pessoas infectadas com Covid-19 se queixaram de ter que procurar camas para seus parentes porque os hospitais os rejeitaram.
Outras disseram que pacientes foram deixados sem atendimento em corredores de hospitais estatais, e reportagens da mídia local sobre cadáveres no saguão de um hospital levaram a Suprema Corte a ordenar que a administração estatal reaja à altura.
“Não acho que esperávamos que os casos aumentariam tanto”, disse um parlamentar do partido Aam Aadmi, que comanda a capital, e que não quis ser identificado. “Estávamos confiantes demais.”
O escritório do ministro-chefe da Nova Délhi, Arvind Kejriwal, e as autoridades municipais de saúde não responderam a pedidos de comentários.
Menos de um mês atrás, Kejriwal disse que os hospitais da cidade estavam bem equipados para combater o vírus, já que o isolamento deu tempo para as autoridades se prepararem. “Délhi vencerá, o corona perderá”, disse.
Se Nova Délhi tinha cerca de 10 mil casos do novo coronavírus à época, o número saltou para 41 mil nesta segunda-feira. O número total da Índia está em 332.424, e Nova Délhi, Mumbai e Chennai fomentam o aumento de infecções.
É certo que os casos da capital aumentarão. O governo estima que a cidade terá 550 mil casos de Covid-19 até o final de julho, cerca de 13 vezes mais do que na atualidade, e que precisará de 150 mil leitos a esta altura.
Ainda nesta segunda-feira, um aplicativo do governo mostrou que, dos 9.940 leitos da capital para pacientes com Covid-19, quase 5.500 estão ocupados. Dos 108 hospitais públicos e privados listados no aplicativo, 25 não tinham leitos disponíveis.
Anant Bhan, pesquisador independente de saúde e bioética global, disse que abrir templos e mesquitas provavelmente fará mais pessoas saírem de casa e colocará vidas em risco se os protocolos de distanciamento social não forem seguidos.
As reaberturas foram decididas nacionalmente, mas o Estado de Maharashtra, onde Mumbai se localiza, por exemplo, manteve as restrições em vigor para conter o surto.
“Elas (autoridades de Nova Délhi) provavelmente subestimaram a possibilidade de um aumento de infecções e sua disseminação, ou os modelos que usaram então não pareciam indicar a disseminação que estão vendo agora”, disse Bhan.
O governo de Nova Délhi também foi criticado pelo rastreamento de contatos. O presidente-executivo do centro de pesquisas federal indiano NITI Aayog disse no Twitter que a cidade só está rastreando duas pessoas para cada caso positivo de Covid-19, enquanto Bengaluru, no sul, estava rastreando 47 contatos para cada paciente.