Candidato do PT também sinaliza com responsabilidade fiscal, apesar da defesa ao aumento do investimento público
“Credibilidade, previsibilidade e estabilidade.” Essas são as “três palavras mágicas para governar”, segundo Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), que lidera as pesquisas para eleição à presidência, em uma disputa polarizada com o atual presidente Jair Bolsonaro, concedeu a segunda grande entrevista sobre a corrida eleitoral de 2022 ao Financial Times, um jornal estrangeiro. Em maio, também havia falado com a Time, revista americana da qual foi capa na ocasião, com o título “Lula, segundo ato”.
A matéria no veículo internacional aponta que Lula quer ser visto como uma aposta de “segurança”. É simbólica a escolha de Lula para suas primeiras entrevistas, ainda que sua fala continue vaga sobre planos mais detalhados para o país. O investidor estrangeiro foi o primeiro a mostrar que não tinha medo de uma nova gestão do ex-presidente. E Lula, relembrando suas gestões anteriores, falou de tudo que se tornou mainstream após a pandemia, colocando-se como uma antítese ao seu opositor: defender a Amazônia e melhorar as condições de vida da população.
“Temos que tornar a preservação da Amazônia uma das principais prioridades”, diz ele, planejando reforçar a segurança na região, na esteira dos recentes acontecimentos, com os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Durante o governo do petista, o Brasil gozou de uma de suas melhores temporadas globais. Não foi apenas o boom das commodities, mas a visão positiva que se tinha do país. Quem não se lembra da cena de Barack Obama, então presidente dos Estados Unidos, dizendo que Lula era “o cara”, o político mais popular do mundo? Obama fez seus cumprimentos durante encontro com Lula em Londres, em razão da reunião do G20, em 2009.
É, portanto, para esse público que Lula quis mandar o seu aceno, enquanto no Brasil concentra o discurso para o povo, em um início de campanha marcada pelas críticas à piora nos indicadores sociais do país.
Apesar de enfatizar que o investimento público não deve ser encarado como custo, Lula também busca reforçar na conversa com o Financial Times seu compromisso com a responsabilidade fiscal. “Aprendi muito cedo com minha mãe analfabeta que eu não devo gastar mais do que ganho.” Na conversa, com quase nenhum detalhe a respeito de seus planos, ele afirma que seu ministro da economia não deve ser nenhum peso-pesado do mercado, mas sim alguém do campo político com habilidades para o governo, guiado por um grupo de experts.
Se sair vencedor, o mundo vai olhar de perto a gestão de Lula. E o país também. O discurso de previsibilidade e de reforço no social, ao mesmo tempo que pode falar ao povo e angariar votos, é o que mais traz preocupação para o mercado financeiro e empresários, com um potencial reforço no aparato estatal. No fim de junho, em um evento para comemorar os 25 anos de uma das casas mais tradicionais de investimento no país, Luiz Stuhlberger, fundador e gestor da Verde Asset Management, sintetizou o clima do mercado com a disputa em 2022: “o Brasil é uma nave rumo ao passado, não ao futuro”.