22.5 C
Brasília
segunda-feira, 23/12/24
HomeEconomiaOCDE alerta que Brasil pode ter outra década perdida, como os anos...

OCDE alerta que Brasil pode ter outra década perdida, como os anos 1980

Relatório da entidade, que reúne nações desenvolvidas, afirma que o país precisa retomar o ajuste fiscal e destravar as reformas estruturais se quiser recuperar o caminho do crescimento. Diretor, contudo, ressalta que entrada do país na organização é questão de tempo

(crédito: AFP / MARTIN BUREAU)

O Brasil corre o risco de enfrentar uma “recessão prolongada, como a década perdida dos anos 1980” ou uma recuperação econômica “lenta e decepcionante” caso não retome o ajuste fiscal e destrave as reformas econômicas no pós-pandemia. O alerta consta no Relatório Econômico da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o Brasil 2020.

O documento explica que a pandemia de covid-19 “mergulhou a economia em uma recessão profunda” e calcula que, por isso, o Brasil vai acabar este ano com uma queda de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A OCDE ainda projeta um deficit primário de 10,7% do PIB e um endividamento de 91,4% do PIB para o país, por conta do aumento dos gastos e da redução de receitas provocada pela pandemia. E conclui que “melhorar os resultados fiscais continua sendo um dos principais desafios do Brasil”.

“Fortaleçam o fiscal. A questão fiscal já era desafiadora e agora espera-se um acréscimo de 20 pontos percentuais do PIB na dívida pública bruta. De acordo com nossas projeções, a dívida ficará ligeiramente acima de 100% do PIB em 2026. O desafio reside em gastar melhor, em vez de gastar mais”, alertou o secretário-geral da OCDE, José Ángel Gurría.

A OCDE recomenda que o Brasil reveja subsídios ineficazes, regimes fiscais especiais e gastos tributários; melhore a eficiência dos gastos públicos, ajustando as despesas com o funcionalismo; e reduza a rigidez orçamentária por meio da desvinculação e da desindexação do Orçamento. Para a organização, isso é necessário para que o país garanta o cumprimento das regras fiscais, como o teto de gastos, e diz que um eventual abandono dessas regras “poderia inviabilizar a recuperação”.

Além disso, a OCDE afirma que o país precisa avançar nas medidas econômicas que podem melhorar o ambiente de negócios, como a reforma tributária, pois entende que “sem profundas mudanças estruturais para aumentar a produtividade, a recuperação será lenta e decepcionante”. E garantiu que, apesar de ser difícil encontrar consenso político sobre o assunto, “a recompensa do progresso da reforma seria substancial e rápida o suficiente para ser politicamente atraente”. “Essa ação pode gerar um crescimento médio anual de 0,9 pontos percentuais ao longo de 15 anos, fazendo que o crescimento do próximo ano seja 1/3 maior que os 2,6% atualmente projetados”, disse Gurría.

Compromisso

Presente na cerimônia virtual de apresentação do relatório da OCDE, o ministro da Economia, Paulo Guedes, garantiu que as reformas econômicas estão no “centro da programação econômica do governo”. Ele também mostrou comprometimento com o ajuste fiscal e o teto de gastos. “As mensagens da OCDE estão em consonância com o que o Banco Central e o governo têm pensado”, reforçou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Guedes voltou a dizer que as medidas emergenciais lançadas na pandemia da covid-19 foram necessárias, mas não podem ser permanentes, pois já somam 8,5% do PIB. Por isso, reforçou, o governo vai acabar com o auxílio emergencial no próximo dia 31 para voltar ao Bolsa Família em 2021.

A OCDE, no entanto, entende que o Bolsa Família pode contribuir com a redução da pobreza no Brasil. Por isso, recomendou a ampliação do programa. O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, disse que o orçamento anual do Bolsa Família já foi ampliado de R$ 29 bilhões, em 2020, para R$ 34 bilhões em 2021, para que mais famílias sejam atendidas. E admitiu que o orçamento pode ser revisto para cima novamente desde que caiba no teto de gastos. E a única forma de fazer isso, emendou o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, é cortando outras despesas.

Diante dessas sinalizações, o diretor do Departamento de Economia da OCDE, Álvaro Pereira, disse que, apesar da preocupação com a situação fiscal e ambiental do país, é só uma questão de tempo para o Brasil entrar na organização. Guedes garantiu que “o Brasil está pronto para ingressar na OCDE” e disse que a medida, perseguida pelos últimos governos, “torna o caminho à prosperidade mais curto”.

Vacinação fará a diferença no PIB
A vacinação contra a covid-19 vai acelerar a recuperação econômica. A avaliação é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que alerta: a economia global pode crescer até 2% menos que o esperado em 2021 caso os planos de imunização não avancem pelo mundo. A OCDE projeta que o PIB mundial vai cair 4,2% em 2020 e crescer na mesma proporção em 2021. “Se não houver vacinação, ou uma mitigação do que está acontecendo, a recuperação vai ser mais lenta”, alertou o diretor do Departamento de Economia da OCDE, Álvaro Pereira.

Mais acessados