O partido de Putin perdeu um terço de suas cadeiras no Parlamento; comunistas conquistaram 13 cadeiras e foram os grandes vencedores das eleições
O partido que governa a Rússia sofreu um duro revés no domingo nas eleições para o Parlamento de Moscou, ao perder um terço de suas cadeiras, após um verão marcado por manifestações da oposição severamente reprimidas pela polícia.
As manifestações, que reuniram milhares e pessoas, levaram a quase 2.700 detenções, algo jamais visto desde a onda de protestos em 2011-2012, que precedeu o retorno de Vladimir Putin à presidência depois de um mandato como primeiro-ministro.
O principal opositor russo, Alexei Navalni – cujos aliados foram excluídos dessas eleições locais – havia convocado os eleitores a “votar de forma inteligente” e apoiar os candidatos em melhor posição para derrotar os do Kremlin.
Após a apuração de quase todos os votos, os candidatos apoiados pelas autoridades perderam em 20 dos 45 distritos da capital.
No atual Parlamento, os partidários do presidente Vladimir Putin controlavam 38 das 45 cadeiras.
Os comunistas foram os grandes vencedores da eleição, com a conquista de 13 cadeiras, contra cinco no atual Parlamento.
O partido liberal Yabloko conquistou três cadeiras e outra foi obtida por uma candidata independente que era apoiada pela formação.
O partido Rússia Justa, opositor “tolerado” pelo Kremlin, entra no Parlamento com três deputados.
“Batalhamos juntos para conseguir isso. Obrigado a todo por sua contribuição”, declarou Navalni no Twitter, enquanto a advogada Liubiv Sibil, uma das líderes dos protestos, disse que o resultado “entrará para a história de Moscou”.
De acordo com a agência de notícias Interfax, nove deputados do Rússia Unida não foram reeleitos, incluindo o líder moscovita Andrei Matelsky, que era eleito sem interrupção desde 2001.
A taxa de participação foi de 21,77%, levemente acima da registrada em 2014.
Impopular
Diante da queda da popularidade da Rússia Unida, as autoridades não apresentaram nenhum candidato sob essa bandeira e tentaram buscar personalidades da sociedade civil.
Mas foi uma missão fracassada, com alguns fracassos retumbantes, como o da vice-reitora da prestigiada Escola de Estudos Superiores de Ciências Econômicas (HSE), Valeria Kasamara, oficialmente independente, mas apoiada pelo poder e beneficiária de uma grande campanha pré-eleitoral.
A HSE foi um dos principais centros das manifestações, a maioria não autorizada e severamente reprimida.
Nesta segunda-feira, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu uma investigação sobre o “uso excessivo” da força pela polícia russa na repressão das manifestações durante as semanas que antecederam essas eleições.
No total, mais de 5.000 eleições foram realizadas no domingo. Os russos elegeram 16 governadores regionais e parlamentares locais de 13 regiões, incluindo a Crimeia, a península ucraniana anexada pela Rússia em 2014.
Em São Petersburgo, segunda maior cidade do país e antiga capital imperial russa, o candidato do governo venceu a eleição para governador, anunciou a Comissão Eleitoral nesta segunda-feira, rejeitando as denúncias de fraude da oposição.
“Alexandre Beglov, o governador interino, recebeu 64,57% dos votos”, anunciou a Comissão Eleitoral após a apuração de 97% dos votos.
Beglov, nomeado governador interino em 2018, superou dois candidatos pouco conhecidos, Nadejda Tijonova e Mikhail Amosov, que obtiveram 16,84% e 15,93% dos votos, respectivamente.
Seu principal rival, o candidato comunista e conhecido diretor de cinema Vladimir Bortko, retirou-se da eleição alguns dias antes da votação alegando “fraudes”.
No domingo, a oposição transmitiu entrevistas de eleitores que disseram ter recebido dinheiro para votar e vídeos em que indivíduos eram vistos enchendo as urnas.