Após conferência sobre relação entre a Rússia e países Iberoamericanos, vice-reitor da Escola Superior de Economia de Moscou revelou à Sputnik Brasil como estudantes brasileiros podem ganhar bolsas de estudo em uma das principais universidades da Rússia.
Nesta terça-feira (27), a Universidade Nacional de Investigação “Escola Superior de Economia” (HSE, na sigla em inglês) realizou a III Conferência Internacional “Ibero-América e Rússia: Diplomacia e Diplomatas”, para debater os laços da Rússia com Espanha, Portugal e, claro, América Latina.
As relações de Moscou com os latino-americanos tiveram destaque nessa edição da Conferência, que contou com a presença de embaixadores de países como Uruguai, Bolívia, Cuba e Costa Rica.
De acordo com especialistas, o novo contexto geopolítico, marcado pela crise ucraniana, poderá levar a Rússia a voltar os olhos para seus parceiros na América Latina, Ásia e África.
“Eu diria que agora oportunidades significativas estão realmente se abrindo para a cooperação entre a Rússia e a América Latina em geral e o Brasil em particular”, disse o vice-reitor da HSE, Ivan Prostakov, à Sputnik Brasil. “A Rússia tem laços históricos com países como a Argentina, a Bolívia e o Brasil, um parceiro no âmbito dos BRICS.”
Os temas debatidos durante a Conferência são prova da longevidade dos laços entre a Rússia e América Latina: a atuação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, o papel de político Gustavo Capanema e as potencialidades da diplomacia cultural brasileira foram algumas das questões analisadas em pleno centro da capital russa.
Vice-reitor da Escola Superior de Economia (HSE), Ivan Prostakov, durante a III Conferência Internacional “Ibero-América e Rússia: Diplomacia e Diplomatas”, Moscou, Rússia, 17 de maio de 2022.
© Foto / Cortesia da Escola Superior de Economia (HSE)
“Veremos a Rússia se voltar para a América Latina? E será que a América Latina se voltará para a Rússia?”, questionou chefe do Departamento de Estudos Regionais da HSE, Olga Volosyuk. “Não podemos dar uma resposta final a essa pergunta, mas o debate deve começar imediatamente.”
Diversos países latino-americanos, inclusive o Brasil, não aderiram a política de sanções econômicas impostas contra a Rússia. Durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, no dia 24 de março, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, declarou considerar o uso de sanções como “unilateral” e “seletivo”.
“O Brasil não está de acordo com a aplicação de sanções unilaterais e seletivas. Essas medidas, além de ilegais perante o direito internacional, preservam concretamente os interesses urgentes de alguns países, como o fornecimento de petróleo e gás a nações europeias. Por outro lado, atingem produtos essenciais à sobrevivência de grande parcela da população mundial”, disse o chanceler brasileiro.
Com a economia russa dando sinais de resiliência perante as sanções econômicas, a América Latina poderá ocupar o espaço deixado por países ocidentais não só na economia, mas também na sociedade russa.
Intercâmbio na Rússia
Ainda que haja potencial não explorado nas relações entre Brasil e Rússia, várias pontes já estão construídas para garantir a aproximação entre os países. A cooperação acadêmica da Escola Superior de Economia (HSE) com universidades brasileiras como a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) são exemplos disso.
“A cooperação com o Brasil é bastante importante para nós”, disse o disse o vice-reitor da HSE, Ivan Prostakov, à Sputnik Brasil. “A Rússia e o Brasil têm muito em comum, tanto social e quanto economicamente.”
Estudantes da Escola Superior de Economia durante a III Conferência Internacional “Ibero-América e Rússia: Diplomacia e Diplomatas”, Moscou, Rússia, 17 de maio de 2022.
© Foto / Cortesia da Escola Superior de Economia (HSE)
A HSE tem programa de intercâmbio acadêmico e duplo diploma com mais de oito instituições de ensino brasileiras, e organiza escolas de verão e inverno em conjunto com a UNICAMP, no âmbito de projetos como a Universidade em Rede do BRICS.
“Em 2021, a escola foi realizada no campus da HSE e teve como tema ‘BRICS e desenvolvimento sustentável'”, relatou Prostakov. “Dentre os participantes, tínhamos 25 estudantes brasileiros, sete indianos, quatro chineses, russos e sul-africanos, mas também da Tailândia, Paquistão, Alemanha, Itália e Marrocos.”
Além da área de humanas, os cientistas russos tem grande potencial para cooperar com seus pares brasileiros nas áreas de exatas e ciências naturais.
“A contribuição dos cientistas russos está bem exemplificada em projetos conjuntos com nossos colegas brasileiros”, disse Prostakov. “Um dos exemplos é o projeto conjunto ‘Brasil: filosofia formal e a lógica da agência racional’ organizado pelo Laboratório Internacional de Lógica, Linguística e Filosofia Formal da HSE em colaboração com a UNICAMP”.
A chefe do Departamento de Estudos Regionais da Escola Superior de Economia (HSE), Olga Volosyuk, durante a III Conferência Internacional “Ibero-América e Rússia: Diplomacia e Diplomatas”, Moscou, Rússia, 17 de maio de 2022.
© Foto / Cortesia da Escola Superior de Economia (HSE)
O vice-reitor ainda citou um segundo projeto, tocado pelo Instituto de Eletrônica e Matemática da HSE em parceria com a UFPE, sobre pesquisa de efeitos quânticos em materiais de baixa dimensão.
Bolsas de Estudos
A expectativa é que a cooperação com o Brasil e a América Latina se intensifique, principalmente através do fornecimento de bolsas de estudos.
“A cada ano, recebemos cerca de 30 inscrições de estudantes brasileiros, oriundos sobretudo de São Paulo e do Rio de Janeiro”, revelou o vice-reitor da HSE. “A maioria deles se interessam pelos nossos programas de Relações Internacionais e Administração de Empresas ministrados em inglês.”
A estrutura da HSE conta com campus e moradias estudantis não só em Moscou, mas também em São Petersburgo, Nijni Novgorod e Perm.
Entrada de prédio da Escola Superior de Economia (HSE) no centro de Moscou (foto de arquivo)
© Sputnik / Vitaly Belousov
“Se inscrever nos programas da HSE é fácil. É só fazer o registro online, escolher até dois programas e enviar os documentos necessários”, disse Prostakov. “Os candidatos a vagas de graduação passam por dois testes de admissão. Já a seleção de candidatos ao mestrado é feita através de portfólios com os seus feitos educacionais e acadêmicos.”
Segundo ele, os programas da HSE têm “processo de seleção rígido, por isso nem todos são admitidos na universidade”, que atualmente conta com 15 estudantes brasileiros.
“Ao final do processo, os melhores estudantes recebem uma bolsa e estudam de graça – e, aliás, é nesse formato que estudam a maioria dos nossos estudantes brasileiros”, disse o vice-reitor.
Além dos programas em inglês, alunos brasileiros estão inscritos nos programas em língua russa em áreas como física e geografia.
“O processo seletivo será aberto no dia 1 de novembro e segue até meados de agosto. Por isso, ainda há tempo de ser admitido na HSE […] e é sempre um prazer pra nós receber estudantes brasileiros!”, concluiu o vice-reitor.
Estudantes seguram cartazes com letras do alfabeto russo, em Novossibirsk, Rússia (foto de arquivo)
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Nesta terça-feira (17), a Universidade Nacional de Investigação “Escola Superior de Economia” realizou a III Conferência “Ibero-América e Rússia: Diplomacia e Diplomatas”, para debater a história e as perspectivas das relações de Moscou com países latino-americanos, Espanha e Portugal. A conferência contou com a participação de acadêmicos de países como Rússia, Espanha, México e Brasil.