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sábado, 23/11/24
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Polícia Civil realiza operação para prender envolvidos com o jogo Baleia Azul

Uma pessoa foi presa no RJ, e ação acontece em outros oito estados. O jogo não existe oficialmente – é uma iniciativa de criminosos que usam redes sociais para impor desafios macabros a crianças e adolescentes.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro realiza na manhã desta terça-feira (18) uma operação no RJ e em outros oito estados contra o jogo da Baleia Azul, uma corrente que tenta induzir virtualmente seus participantes, a maioria menores de 16 anos, ao suicídio por meio de 50 desafios. Um suspeito foi preso na favela Nova Era, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Matheus Silva, de 23 anos, confessou aos policiais que era um dos “curadores” do jogo.

O Baleia Azul não existe oficialmente – não há um site ou algo parecido. É uma iniciativa de criminosos que usam as redes sociais para impor desafios macabros a crianças e adolescentes. Um grupo de organizadores, chamados “curadores”, propõe uma sequência de missões que envolvem isolamento social, automutilação e suicídio.

Polícia Civil do Rio prendeu jovem na comunidade Nova Era, em Nova Iguaçu (Foto: Divulgação / Polícia Civil)

Polícia Civil do Rio prendeu jovem na comunidade Nova Era, em Nova Iguaçu 

Sob comando da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), os agentes tentam cumprir 24 mandados de busca e apreensão no Amazonas, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Havia apenas um mandado de prisão, que já foi cumprido no Rio de Janeiro.

“Esse rapaz que foi preso, nós já tínhamos materialidade suficiente para pedir a prisão dele. Ele já confessou que era curador, que tinha influenciado 30 vítimas, mas temos nos autos cerca de 40 vítimas”, disse a delegada-assistente Fernanda Fernandes.

Os mandados foram expedidos pelo juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal, e o objetivo é identificar e prender supostos “curadores” do jogo, que chegou a causar ferimentos em vítimas no Rio e tem ligação suspeita com casos no Mato Grosso e na Paraíba. Algumas das vítimas, ao tentarem deixar o jogo, foram ameaçadas por essas pessoas.

Às 8h50, os policiais já haviam apreendido telefones celulares e computadores em todos os estados onde a ação foi realizada. Os agentes vão avaliar o material apreendido, que vai ajudar a identificar os outros curadores do Baleia Azul. São 24 equipes de agentes em 20 municípios de todo o país, com pelo menos 3 agentes em cada. Assim, há pelo menos 72 policiais envolvidos.

Polícia dá detalhes sobre operação no RJ e em outros oito estados contra o jogo da Baleia Azul (Foto: Larissa Johnsson )

Polícia dá detalhes sobre operação no RJ e em outros oito estados contra o jogo da Baleia Azul 

Investigações

Segundo os responsáveis pela investigação, o trabalho foi uma corrida contra o tempo para preservar a vida dos jovens envolvidos. “Algumas vítimas estavam muito marcadas quando nós as encontramos”, explicou a delegada Daniela Terra. Todas foram encaminhadas para atendimento psicológico.

A delegada afirmou que os pais devem avaliar se as crianças têm maturidade para ter um perfil em rede social.

As rondas virtuais por redes e serviços disponibilizados pela internet ajudaram a Polícia Civil do Rio de Janeiro a identificar a migração do jogo, que acontecia em alguns países da Europa, para as cidades brasileiras.

Segundo a Safernet (associação que combate violação de direitos humanos na internet), o jogo surgiu de uma notícia falsa na Rússia que se espalhou a partir de 2015. Desde abril, a DRCI investiga várias pessoas que estariam relacionadas aos crimes envolvendo o Baleia Azul.

Recomendações

As recomendações para as famílias são: monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada têm de brincadeira. Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da Baleia Azul.

Também as escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias e tecnologias.

O G1 ouviu especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:

1. Fique atento às mudanças de comportamento

Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.

“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, afirma a especialista.

2. Compartilhe projetos de vida

Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da repercussão do jogo da Baleia Azul.

“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, diz Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.

3. Abra espaço para diálogo

Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de proteção”.

Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha.

“O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família”, ressaltou a especialista.

Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”

4. Adolescentes devem buscar aliados

O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, conta Elizabeth.

5. Escolas podem criar iniciativas pela vida

Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.

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