Desentendimento aconteceu após uma ‘fechada’ no Eixinho. Policial afirmou que o outro motorista não atendeu a voz de prisão.
Uma briga de trânsito se transformou em perseguição e envolveu até tiros na Asa Norte, na madrugada desta terça-feira (27). Segundo a Polícia Militar, o carro de um policial civil do Pará foi fechado, na altura da 208 Norte. O outro motorista, o técnico em ótica Ricardo Lopes, saiu de um posto de gasolina e entrou no Eixinho, ficando na frente do carro do policial.
Segundo Lopes, havia espaço para o carro do policial passar em segurança. “Eu estava saindo na faixa da direita, então ele podia muito bem passar pra faixa da esquerda”, disse.
Ainda de acordo com a PM, começou uma perseguição que só terminou na altura da 214 Norte, quando o policial deu três tiros.
Um atingiu a bomba de combustível do carro, que sofreu pane no meio do Eixão. Ricardo Lopes afirma que o policial o ameaçou com a arma. “Ele disse: ‘Bota a mão na cabeça e deita no chão’. Aí eu falei: ‘Você é louco, vai matar um pai de família que está com filho na UTI. Eu saindo do posto dei seta. Que motivo você teria pra atirar em mim?”.
Ambos foram encaminhados para a 5ª Delegacia, na Asa Norte. O policial civil não quis dar declaração à imprensa. “Eu não vou me defender do que eu não fiz de errado”, declarou.
Segundo a polícia, o agente do Pará afirmou que se sentiu ameaçado no trânsito e disparou contra o outro motorista depois que ele desobedeceu uma voz de prisão. Ele afirmou na delegacia que pretendia atirar no pneu e parar o veículo.
Ninguém foi preso. O policial do Pará responderá por disparo em arma de fogo e o outro motorista, Ricardo Lopes, responderá por direção perigosa. A polícia do DF não informou se enviará o carro a Corregedoria da Polícia Civil no Pará.
Opinião jurídica
O Conselheiro Seccional da OAB DF Cleider Rodrigues Fernandes disse que dificilmente, a ocorrência seria enquadrada como tentativa de homicídio. Para isso, é necessária a intenção de matar. O advogado ressaltou que um policial civil tem treinamento no disparo de arma de fogo, e portanto, se quisesse matar, teria acertado o motorista, pois tem a capacidade técnica para isso.
Ele deve responder por disparo em via pública e exercício ilegal da profissão, já que deu ordem de parada quando não estava a trabalho.
Para o advogado, a conduta do policial é reprovável, porque ele tem treinamento para se portar na sociedade e saber quando e como usar uma arma de fogo, assumindo que ele tenha porte de arma nacional e não apenas no estado onde é policial.
Fernandes disse ainda acredita se tratar de mais um caso de falta de educação no trânsito, das duas partes, já que o primeiro motorista teria fechado o policial no trânsito, e isso pode ter despertado um instinto de que algo estaria errado com o motorista e por isso o policial deu ordem de parada.
“Acho pouco provável que seja um crime com conotação de homicídio. Não fecha os requisitos necessários.”