Com o nível do Descoberto em 18,94%, Caesb anuncia início do racionamento para 1,8 milhão de pessoas. A medida começa segunda por Ceilândia, Recanto das Emas e Riacho Fundo. Cidades abastecidas pelo sistema Santa Maria terão pressão reduzida
O menor volume de água já registrado na Barragem do Descoberto levou a Companhia de Abastecimento do Distrito Federal (Caesb) a tomar a mais drástica medida para forçar a diminuição do consumo do líquido: o plano de racionamento, o primeiro da história do DF. No total, 65% da população da capital do país — cerca de 1,8 milhão de habitantes — ficarão sem água por 24 horas a cada seis dias. O rodízio começa na próxima segunda-feira, às 8h, nas cidades de Ceilândia, Recanto das Emas e Riacho Fundo II. Ao todo, serão 15 regiões administrativas afetadas pelo racionamento — todas elas abastecidas pelo rio Descoberto. As demais, como o Plano Piloto, os Lagos Norte e Sul, Itapoã e Varjão não participarão do rodízio porque são atendidas pelo sistema Santa Maria/Torto.
A expectativa da Caesb é uma economia a mais de 10% no consumo de água por conta do racionamento e, somando todas as medidas em vigor, a empresa espera 25% de redução. Não há prazo definido para o fim das restrições. O rodízio vai funcionar em um ciclo de seis dias, no qual o morador fica 24 horas sem água. Em seguida, passa dois dias com o sistema instável e mais três dias com o serviço normalizado. “Quando a gente desliga um sistema, a volta da carga (água) é gradual, o que pode demorar mais em algumas regiões, como as mais altas, que demandam maior pressão. Por isso, teremos o prazo de 48 horas para a estabilização”, explica Maurício Luduvice, presidente da Caesb.
Mesmo com o racionamento programado, as outras práticas de contenção de consumo, como a tarifa extra para o gasto acima de 10 mil litros por mês e a redução de pressão, continuam valendo. Dessa forma, a população, que já vinha convivendo com menos água na torneira por conta da redução da pressão diária nos canos de distribuição, terá que se adaptar ainda a um dia da semana sem o serviço. Nos dias de racionamento, os prédios públicos, como escolas, hospitais e delegacias, serão abastecidos por caminhões-pipa.
A recomendação da Caesb é a de que os moradores, uma vez avisados do calendário de desligamentos, passem a armazenar água em reservatórios, como caixas d’água. Questionado sobre o fato de a população armazenar mais água do que o necessário e incrementar o consumo, Luduvice afirmou que conta com o bom senso. “O nosso desafio é acabar com a cultura do desperdício. O DF não tem tanta água. Por isso, precisa consumir na medida certa”.
Embora as regiões abastecidas pelo Santa Maria/Torto não entrem no rodízio, elas passarão a conviver com a diminuição de pressão nas redes de distribuição de água, o que significa que o líquido chegará nas torneiras com menor intensidade. A previsão é de que a medida comece a vigorar a partir de 30 de janeiro. Entretanto, a Caesb informou que ainda faltam ajustes técnicos e autorização da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa). Por isso, não há um detalhamento sobre como vai funcionar a redução de pressão.
Na tarde de ontem, segundo as medições da Adasa, o Descoberto chegou ao nível de 18,94%, o mais baixo já registrado. A forte chuva que atingiu regiões isoladas da capital ainda não foi suficiente para reverter o quadro de escassez causado pela falta de precipitações e pelo calor. A previsão é de que as chuvas comecem a ficar mais frequentes. A meteorologista Cláudia Rickes afirma que, nos próximos dias, devem ocorrer pancadas com trovoadas isoladas com possibilidade de descargas elétricas. Para hoje, a máxima pode atingir 28ºC e a mínima, 18ºC. A umidade máxima prevista é de 95%.
Desde novembro de 2016, quando o nível do Descoberto chegou a 20%, a Adasa autorizou a Caesb a implantar o plano de racionamento. Entretanto, a empresa adiou a execução, alegando “questões técnicas”, quando boa parte dos especialistas recomendava medidas mais austeras para conter o consumo. Na opinião de Luduvice, todas as decisões da empresa foram tomadas com responsabilidade. “20% é um marco orientativo. Não significava que a gente tinha que entrar em racionamento naquele momento. As outras medidas de contenção estavam conseguindo frear o consumo e esperávamos mais chuva do que as registradas neste início de ano.”
População em alerta
O racionamento pegou os comerciantes de Ceilândia de surpresa. Dono de uma pizzaria na QNN, José Delmondes conta que precisa de água para lavar louça, para o banheiro dos clientes e também para limpar o estabelecimento. Ele não sabia que o racionamento tinha data marcada para começar, mas já se programa para driblar a falta de água. “Aqui, nós temos duas caixas d’água, uma da pizzaria e outra de uma casa desocupada, localizada nos fundos. Elas vão segurar os dias de maior movimento. A nossa sorte é que fechamos às terças, isso aliviará, se for um dia totalmente sem água”, avalia. No entanto, o administrador acredita que, mesmo assim, precisará comprar galões, no pior dos cenários.
Em uma lanchonete localizada na mesma avenida, os funcionários tentavam contato com o dono para relatar o corte d’água. “A gente esperava o racionamento, mas não dias inteiros sem água. Não sabemos como vamos fazer para preparar os lanches e limpar a loja. Ainda não temos um plano”, relatou a funcionária Bruna Alessandra. Em um salão de beleza na QNM, a dona, Macilene Reis, decidiu que pedirá para todas as clientes chegarem com o cabelo lavado e molhado. “Só de falar em falta d’água já fico sem ar”, brinca. “Tenho o salão há 10 anos e nunca tinha passado por essa situação. Mas não pretendo diminuir o horário de atendimento. E acho que minhas clientes vão entender o pedido”, completou a proprietária, que realiza de 12 a 15 atendimentos por semana.
Confira onde e quando faltará água:
16 de janeiro (segunda-feira)
Interrupção: Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
17 de janeiro (terça-feira)
Interrupção: Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK e Residencial Santa Maria
Religação e estabilização: Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
18 de janeiro (quarta-feira)
Interrupção: Gama
Religação e estabilização: Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK, Residencial Santa Maria, Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
19 de janeiro (quinta-feira)
Interrupção: Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste e Samambaia
Religação e estabilização: Gama, Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK e Residencial Santa Maria
20 de janeiro (sexta-feira)
Interrupção: Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal e Riacho Fundo I
Religação e estabilização: Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste, Samambaia e Gama
21 de janeiro (sábado)
Interrupção: Águas Claras (zona alta), Concessionárias e Taguatinga Norte
Religação e estabilização: Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal, Riacho Fundo I, Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste e Samambaia
22 de janeiro (domingo)
Interrupção: Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
Religação e estabilização: Águas Claras (zona alta), Concessionárias, Taguatinga Norte, Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal e Riacho Fundo I