Bolsonaro disse que não irá participar da campanha, mas vídeos e fotos com aliados serão usados para fins eleitorais
Em uma eleição municipal em meio à pandemia, em que a propaganda digital deve substituir comícios e eventos presenciais, a presença on-line de Jair Bolsonaro já provoca disputa nas cidades. O presidente declarou que não irá participar da campanha, mas isso não tem impedido que ele grave vídeos e tire fotos com aliados, que usam o material para fins eleitorais.
Em alguns casos, na falta da presença virtual do presidente, políticos têm apelado para montagens. Na Bahia, um pré-candidato a vereador levou a tática ao extremo, ao criar um panfleto em que aparece “apoiado” ao mesmo tempo por Bolsonaro e pelo ex-presidente Lula.
Dirigentes de partidos de centro ouvidos pelo GLOBO avaliam que, ainda que a popularidade de Bolsonaro tenha aumentado, sua taxa de aprovação não é suficiente para garantir que uma associação com ele será mais positiva do que negativa. Eles têm recomendado a seus candidatos que evitem “nacionalizar” a disputa. Nem todos, porém, seguem essa orientação.
O pré-candidato à prefeitura de Manaus pelo Patriota, Coronel Alfredo Menezes, divulgou no fim de semana a declaração de apoio do presidente em que Bolsonaro manda mensagem aos eleitores da capital amazonense: “Quem confiar em você (Menezes) jamais se arrependerá”. Ele não é o único que se diz aliado do presidente na disputa. O presidente também prometeu apoio em vídeos no segundo turno ao Capitão Alberto Neto (Republicanos), outro pré-candidato em Manaus, segundo a colunista do GLOBO Bela Megale.
— O presidente disse que, no primeiro turno, não vai apoiar nenhum candidato, mas que, no segundo, caso eu vá, me apoiaria. Disse que, se eu precisar, ele grava vídeos — disse Alberto Neto, que participou de café da manhã ontem como presidente junto com outros deputados do Republicanos.
Também presente no café da manhã, Vavá Martins (Republicanos-PA), pré-candidato a prefeito de Belém, aproveitou para tirar uma foto com Bolsonaro.
— Não tem como não (tirar a foto), é a oportunidade de aproximar o Pará do presidente, fazer com que a gente venha a alavancar — diz Vavá ao GLOBO.
Bolsonaro também gravou vídeo para a coronel Rúbia Fernanda (Patriotas-MT), candidata ao Senado no estado, que terá eleição suplementar em novembro. No vídeo apresentado no lançamento da candidatura, o presidente voltou a declarar que não irá participar da campanha municipal.
“Eu não irei entrar em eleições municipais porque são quase seis mil municípios no Brasil e eu ficaria sem trabalhar. Mas como a da coronel Fernanda é uma campanha isolada de Mato Grosso para o Senado, nós podemos encarar. E seu Deus quiser teremos sucesso”, afirmou. Bolsonaro pediu uma campanha limpa, sem ataque aos adversários.
Bruno Engler, deputado estadual e pré-candidato à prefeitura de Belo Horizonte pelo PRTB, também publicou recentemente uma foto com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Jair Bolsonaro. O presidente já sinalizou que pode aderir abertamente à campanha de Engler no segundo turno.
Eficácia relativa
Há também quem tente “colar” em Bolsonaro mesmo sem um endosso explícito na forma de foto ou vídeo. O deputado estadual Wallber Virgolino (Patriota), pré-candidato a prefeito em João Pessoa (PB), postou uma fotomontagem ao lado de Bolsonaro e tem dito à imprensa local que, em breve, contará com apoio explícito de Bolsonaro à sua candidatura. Em diversas publicações, ele cita seu alinhamento com Bolsonaro.
Marcelo Vitorino, especialista em marketing político digital que trabalhou para Geraldo Alckmin em 2018, acredita que, mesmo com uma campanha baseada em redes sociais, é difícil que um endosso por meio de foto com o presidente impacte a campanha de forma substancial.
— Não é a figura do Bolsonaro que vai fazer com que as pessoas votem, porque eleições municipais são focadas em questões mais pragmáticas. A vaga na creche, o buraco na rua — opina.
Heitor Freire, pré-candidato do PSL em Fortaleza (CE), nega que vá tentar se associar a Bolsonaro para conseguir votos.
— Eu, pessoalmente, não vou atrás de colar na imagem do Bolsonaro. Me associam muito porque eu defendo os princípios que ele defende. Podem me associar, mas eu não vou usar o nome “Bolsonaro”.
A indefinição sobre se a associação ao presidente irá ajudar mais do que atrapalhar levou Marcos Henrique Barros Pereira, pré-candidato a vereador de Santa Maria da Vitória, no interior da Bahia, a confeccionar um santinho com a foto de Lula e de Bolsonaro, um ao lado do outro. “Juntos somos mais fortes”, diz a legenda da imagem.
Em publicação na última sexta-feira, Bolsonaro disse que não irá “participar, no 1° turno, nas eleições para prefeitos em todo o Brasil”, alegando que tem muito trabalho na Presidência e que isso “tomaria todo meu tempo num momento de pandemia e retomada da nossa economia”.
Já no segundo turno, especialmente em capitais com maior eleitorado, como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, o presidente deve partir para o apoio explícito.