Este tumor está se tornando cada vez mais incidente no público jovem. O Setembro Verde alerta para a importância da prevenção (e do diagnóstico precoce)
Os avanços da medicina, o número de casos e a constante discussão sobre curas e terapias fazem com o que o câncer seja um dos principais temas do universo da saúde. Sei que há inúmeras perguntas importantes a serem respondidas, mas não podemos deixar de, sempre que possível, retornar a uma pauta fundamental: a prevenção. Como estamos no Setembro Verde, eu gostaria de me concentrar no tumor de intestino especificamente.
Considerado o terceiro tipo de câncer mais frequente em homens (após próstata e pulmão) e o segundo entre as mulheres (após o câncer de mama), ele acomete o intestino grosso (subdividido em cólon e reto). E um alerta: essa doença está se tornando cada vez mais incidente na população brasileira. O Instituto Nacional do Câncer estima o surgimento de 17 380 casos novos de câncer de cólon e reto em homens e 18 980 em mulheres para o biênio 2018-2019.
As diretrizes de prevenção no Brasil recomendam que o rastreamento preventivo comece a partir dos 50 anos na população geral e aos 40 anos na população de risco, ou seja, aqueles com histórico familiar de câncer colorretal ou aqueles que já tiveram casos de câncer em outro local do corpo.
Porém, nota-se que o desenvolvimento do câncer de intestino em pessoas abaixo da quinta década de vida vem aumentando com velocidade no mundo. Prova disso está em uma publicação da Sociedade Americana de Câncer, que mostrou que, de 1992 a 2005, a incidência geral dessa doença nos Estados Unidos cresceu 1,5% ao ano em homens e 1,6% por ano em mulheres de 20 a 49 anos. E os maiores aumentos ocorreram em pacientes entre 20 e 29 anos —5,2% e 5,6% ao ano para homens e mulheres, respectivamente .
Outro estudo, dessa vez em países da Europa, indicou que, entre 2004 a 2016, a incidência de câncer de intestino aumentou 7,9% ao ano entre indivíduos de 20 a 29 anos. Já em pacientes de 40 a 49 anos, esse acréscimo ficou em torno de 1,6%. É uma taxa consideravelmente menor.
Estudos clínicos e especialistas se dividem em busca das respostas para esse fenômeno. O consumo de alimentos ultraprocessados, o tabaco, a obesidade e o estresse estão no topo das hipóteses, além da deficiência na ingesta de alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e cereais e água. Adicionalmente, há um fator extremamente preocupante aqui: em jovens, o câncer de intestino tem sido diagnosticado mais tarde, quando já avançou bastante.
Claro que fatores genéticos contribuem para o desenvolvimento da doença. Quadros sindrômicos, como a polipose ou a Síndrome de Lynch, são exemplos disso.
Mas, com a adoção de uma vida mais saudável, é possível evitar o desenvolvimento do tumor. Investir em uma alimentação saudável adequada e rica em vegetais, controlar o consumo de carne processada ou vermelha e investir na prática regular de atividade física são caminhos para evitar o aparecimento desse tipo de câncer.
Do ponto de vista de diagnóstico precoce, a principal recomendação é não esperar que os sintomas apareçam. Mas fique especialmente atento a sangue nas fezes, que é o principal sinal de alerta para o câncer colorretal. Outras manifestações podem ocorrer, como alterações no hábito intestinal (diarreia, intensa vontade de evacuar ou intestino lento), cólicas abdominais, dor na região anal, fraqueza, anemia e emagrecimento intenso.
Não podemos esquecer que o cuidado com a saúde também consiste na realização periódica de exames preventivos, uma vez que 90% dos casos o câncer de intestino se origina a partir de um pólipo benigno, que ao longo dos anos evolui para um tumor. A colonoscopia é fundamental, porém não é o único. Existe uma alternativa simples e de baixo custo, que avalia a presença de sangue oculto nas fezes.
Informe-se sobre esses exames com o seu médico ou com um coloproctologista, o especialista em doenças do intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus.
O diagnóstico precoce é fundamental, mas as pessoas também precisam saber que o câncer colorretal tem tratamentos cada vez mais modernos e efetivos para diferentes perfis de paciente. Para os tumores menores, por exemplo, as lesões podem ser retiradas por colonoscopia e ressecções locais. Já os maiores contam com opções cirúrgicas, como a cirurgia laparoscópica, robótica ou mesmo as cirurgias abertas, cobertas em cidades do Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Este tratamento, muitas vezes, pode ser multidisciplinar e envolver ainda outras especialidades terapêuticas, como a radioterapia e a quimioterapia. Cada estratégia será escolhida de acordo com o status do paciente, tamanho da lesão e a localização exata do câncer.
É pensando em tudo isso e na conscientização da população que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) promove o Setembro Verde. Trata-se de um mês de intensa campanha, com o objetivo de trazer informações e gerar o autocuidado. Afinal, informar-se também é uma maneira de prevenir.
Acesse www.portaldacoloproctologia.com.br para obter informações sobre a campanha.
*Dra. Sthela Maria Murad Regadas é coloproctologista e presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia