Pressionadas pela ampla oferta global, as cotações da commodity estão atualmente no menor patamar em anos na Bolsa de Nova York
São Paulo – Os atuais preços do açúcar estão abaixo do custo de produção para “90 por cento” dos produtores globais e deveriam alcançar algo entre 15 a 16 centavos de dólar por libra-peso para que as usinas brasileiras retomem alguma rentabilidade, avaliou nesta quinta-feira o diretor da Região Brasil do Grupo Tereos, Jacyr Costa Filho.
Pressionadas pela ampla oferta global, em especial na Índia, Tailândia e União Europeia (UE), que devem registrar safras recordes, as cotações da commodity estão atualmente no menor patamar em anos na Bolsa de Nova York, no terreno próximo de 11 centavos de dólar por libra-peso.
O segundo contrato do açúcar bruto atingiu nesta semana o menor valor desde 2008.
“Esses preços são uma demonstração clara de que não é sustentável (produzir açúcar). Para o Brasil, que tem o menor custo de produção, deveriam estar entre 15 a 16 centavos de dólar por libra-peso, nível que não estimula muito a produção em outros países e dá rentabilidade para nossas usinas”, avaliou Costa Filho no intervalo da conferência internacional de açúcar e etanol da F.O. Licht em São Paulo.
Ele não especulou sobre o que poderá ocorrer no próximo ano com a produção de açúcar do Brasil, maior produtor e exportador global do adoçante, como efeito dos baixos preços. No momento, a indústria está se voltando para o etanol, que vem registrando melhores preços.
O executivo, à frente de uma companhia que no Brasil conta com sete usinas e moagem de cana estimada para 2018/19 em torno de 20 milhões de toneladas, disse ser difícil precisar quando os valores do açúcar voltarão a subir, até porque parte importante das oscilações deve-se à especulação por fundos.
Ele não detalhou as estimativas de produção de açúcar e etanol da Tereos no Brasil na atual safra, iniciada neste mês, mas ressaltou que o centro-sul do país como um todo deve mesmo fabricar algo em torno de 5 milhões de toneladas a menos no ciclo.
A avaliação do executivo vai em linha com a de outras consultorias, que citam uma maior destinação de matéria-prima para o etanol em detrimento do açúcar.
Renovabio
Costa Filho também elogiou a nova política nacional de biocombustíveis, o RenovaBio, em fase de regulamentação. A expectativa é de que o programa tenha suas metas de descarbonização definidas até junho.
“É um programa de grande envergadura e está tramitando mais rápido do que se esperava… O grande mérito do RenovaBio está em estimular a inovação e a eficiência, reduzindo os custos para o produtor e dando maior competitividade”, disse ele, também presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag) e, por esse motivo, próximo às negociações do programa.
Conforme ele, o RenovaBio deve estimular o investimento no setor sucroenergético brasileiro, que vem de anos de dificuldades financeiras.
De acordo com dados apresentados pelo executivo, a moagem de cana em todo o país pode ir a 800 milhões de toneladas até 2030, de 635 milhões em 2017. A produção de açúcar, por sua vez, subiria a 46 milhões de toneladas no mesmo período, ante 39 milhões no ano passado.
Mas o maior incremento se daria sobre o etanol. Segundo Costa Filho, o incremento seria de cerca de 3,2 por cento ao ano até 2030, passando de 28 bilhões de litros em 2017 para 42 bilhões em 2030.
Ele acrescentou que a reorganização ministerial, com mudanças no Ministério de Minas e Energia, principal pasta à frente do RenovaBio, não deve afetar o desenrolar do programa.
“A decisão política já foi tomada. Agora é a parte técnica”, disse, referindo-se à sanção presidencial no fim do ano passado.