As lojas cumpriram as medidas preventivas: mediram a temperatura dos clientes e forneceram álcool em gel na porta. Por outro lado, houve fila na entrada
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Após mais de dois meses fechado para evitar a propagação do novo coronavírus, o comércio de rua na cidade de São Paulo voltou a funcionar ontem com movimento intenso nos principais centros populares de vendas. As lojas cumpriram as medidas preventivas, como colocar máscaras à disposição de clientes e colaboradores, medição de temperatura com termômetro digital e o fornecimento de álcool em gel na porta. Por outro lado, houve filas e aglomerações na entrada dos estabelecimentos.
As regras acordadas entre a Prefeitura e entidades do setor de varejo que viabilizaram a reabertura do comércio mudaram a dinâmica de atendimento. Um dos pontos foi a limitação da capacidade das lojas a 20% do público, para evitar aglomeração interna. A maioria dos estabelecimentos cumpriu as determinações. Mas, em algumas lojas, longas filas se formaram. Era mais demorado entrar do que fazer a compra.
Esse foi o cenário da Rua 25 de Março, um dos principais centros de comércio popular da cidade. A loja Armarinhos Ambar, por exemplo, destacou um funcionário para controlar a entrada de clientes. Só cinco por vez. Com a demora para as compras, com a escolha do produto e pagamento no caixa, as filas se estenderam do lado de fora. Apesar da orientação dos funcionários, as pessoas ficavam próximas umas das outras.
A dona de casa Maria Aparecida Tomazzi, de 64 anos, passou 20 minutos na fila e apenas cinco para comprar lãs para produzir agasalhos para doação. “Meu estoque de lã acabou, mas vim correndo, de carro, tomando todos os cuidados”, diz a moradora da Vila Maria, zona norte. “Existem mais pessoas na fila, na entrada da loja, do que dentro. Mas é melhor abrir assim do que não abrir”, opina Guilherme Ambar, dono da loja, que registrou perdas de apenas 30% nas vendas durante a quarentena por causa do estímulo às vendas online.
Na loja Armarinhos Fernando, as filas foram ainda maiores e dobraram os quarteirões da Rua Afonso Kherlakian. Ali, o controle de entrada foi feito por meio de fichas. Eram 500 ao todo. Uma delas estava com a auxiliar de escritório Bianca Ribeiro, que foi comprar material de escritório para a empresa de brindes onde trabalha na Avenida Tiradentes. Como eles não fizeram home office, o estoque acabou durante a quarentena.
“Nesse primeiro dia, houve uma procura por quase tudo, de brinquedos a perfumaria”, disse Ondamar Ferreira, gerente da loja há 17 anos.
Entra e sai
Muita gente decidiu encarar esse entra e sai das lojas ontem atrás de promoções. A decoradora Mariana Diniz, moradora de Jandira, na Grande São Paulo, queria objetos para a festa junina que não encontrou pela internet. Mas não foi possível encontrá-los facilmente. Uma das recomendações da Prefeitura foi o adiamento de queimas de estoque para evitar aglomerações.
O protocolo prevê que, nesta fase inicial, classificada como laranja, as lojas respeitem o limite de funcionamento máximo de quatro horas por dia e se comprometam a abrir das 11 horas às 15 horas. O horário não poderia coincidir com os de pico do trânsito (das 7 horas às 10 horas e das 17 horas às 19 horas).
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Na região do Brás, isso ficou na teoria. Muitas lojas abriram antes do prazo, como na Rua Valtier. Horas antes da reabertura já havia filas e aglomerações. Outros lojistas tentaram disfarçar e abriram apenas meia porta. Ambulantes, que também foram incluídos no protocolo de reabertura do comércio de rua, vendiam roupas nas calçadas e no meio das vias. Máscaras? Quase sempre na orelha ou no queixo.
Para controlar o distanciamento dentro das lojas, foi preciso improviso e criatividade. Em várias lojas, foram comuns as marcações no chão com fita adesiva, nem sempre na distância padronizada.
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Embora destaquem a necessidade de retomada dos negócios, muitos lojistas se preocupam com a reabertura no momento em que o número de mortes pelo coronavírus no Estado de São Paulo bateu recorde pelo segundo dia seguido ontem, com 340 mortes registradas em 24 horas. É o caso da gerente de loja de fantasias Maria de Assumpção Bezerra, que trabalha há 30 anos na Ladeira Porto Geral. “Quatro horas é um tempo pequeno para uma loja. Por outro lado, é um tempo enorme para todos ficarem expostos, mesmo com todos os cuidados”, diz a gestora de 59 anos.