O atraso no campo de gás Tyra, que antes do fechamento em meio ao chamado “interruptor verde” fornecia 90% da produção de gás da Dinamarca, parece tornar complicadas as ambições do país nórdico em aliviar os efeitos da crise de energia.
Diante do terrível momento do mercado de energia da Europa, preços recordes e incertezas associadas a futuras entregas de gás russo devido a sanções ocidentais, a Dinamarca tem depositado suas esperanças no campo de gás Tyra, no mar do Norte, para garantir entregas regulares e aliviar a pressão econômica.
A TotalEnergies, que opera o campo de Tyra em nome do Consórcio Subterrâneo Dinamarquês (DUC, na sigla em inglês), disse em um comunicado à imprensa que o trabalho de reconstrução do campo será adiado.
O atraso significa que o gás do campo Tyra só vai ser entregue durante a temporada de inverno europeu de 2023-24, no mínimo. Até agora, a expectativa era de que o campo de Tyra pudesse reabrir em junho do ano que vem.
A pandemia de COVID-19 foi responsabilizada pelo atraso na reabertura por ter afetado as cadeias de produção de diferentes formas, o que inclui a dificuldade na obtenção de mão de obra e materiais para o estaleiro em Batam, na Indonésia, onde a plataforma está sendo construída.
“Levamos a sério a atual crise energética na Dinamarca e na Europa. Portanto, estamos mobilizando recursos adicionais significativos no exterior para que possamos sempre que possível compensar os atrasos ocorridos no estaleiro e colocar o Tyra em operação”, disse o diretor da TotalEnergies Dinamarca, Martin Rune Pedersen, à TV2.
Pedersen descreveu o campo de Tyra como uma “pedra angular da futura produção de gás dinamarquesa”. No geral, petróleo e gás são produzidos na parte dinamarquesa do mar do Norte desde 1972, criando postos de trabalho em terra e no mar. Antes de seu fechamento em setembro de 2019 por razões ambientais como parte do muito elogiado “interruptor verde”, o campo Tyra representava 90% do gás natural produzido na Dinamarca.
Quando estiver totalmente pronto, o Tyra II deverá produzir 2,8 bilhões de metros cúbicos de gás por ano.
O consumo total de gás da Dinamarca em 2021 foi de 2,15 bilhões de metros cúbicos, o que corresponde a 0,4% do consumo total de gás da União Europeia (UE).
Hoje, 800.000 dinamarqueses no país de 5,8 milhões vivem em casas abastecidas por gás, o que põe em dúvida a viabilidade dos planos do governo de se tornarem totalmente verdes em questão de anos.
Em junho, a Agência de Energia Dinamarquesa emitiu um alerta antecipado devido à incerteza sobre o fornecimento de gás do país nórdico, pedindo aos dinamarqueses que economizassem energia. Para alcançar a autossuficiência energética, a Dinamarca planeja uma expansão drástica da produção de energia eólica e solar. Ao mesmo tempo, também deve aumentar a produção doméstica de gás, apesar dos planos anteriores de interrompê-la totalmente.
Diante da perspectiva de escassez de energia e a condição de racionamento no próximo inverno, os líderes da UE adotaram uma meta “voluntária” para reduzir o uso de gás em 15% até março de 2023, a fim de evitar a crise iminente.