Com três batalhões da PM para a segurança de mais de 11 mil produtores, aplicativo de mensagens surge como opção para auxiliar patrulhamento. Mesmo assim, assaltos, violência doméstica e grilagem assustam essa população
Quem mora em Brasília não precisa ir longe para fugir do caos urbano e encontrar lavouras e pastos. Dentro do Distrito Federal, a área rural de cerca de 404 mil hectares é lar de 11,1 mil trabalhadores, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Rural (Emater-DF). Contudo, a tranquilidade da vida no campo também atrai bandidos, que se aproveitam da distância da cidade, além do isolamento dos moradores, para cometer delitos. Os crimes com maior incidência são, segundo a Polícia Militar, assaltos, violência doméstica contra a mulher e grilagem de terras.
Na chácara da analista de sistemas Thatiany Passos, 41 anos, a cerca de arame farpado não inibiu a ação de criminosos. Como a família estava em casa, notou a movimentação diferente e começou a mandar mensagens alertando os vizinhos. “Com a gritaria, eles fugiram sem levar nada”, relata a moradora do Incra 7, próximo ao Setor O, em Ceilândia. A mãe dela, que mora ao lado, conta que, na área, é comum aparecerem assaltantes. “A gente sempre é surpreendido por visitas estranhas ao redor. Tenho um vizinho que foi feito refém dentro de casa.”
Uma das dificuldades para a segurança nas áreas rurais do DF está na quantidade de batalhões. Há apenas três para cobrir 70% do território. Um deles fica próximo à Barragem do Descoberto. Outro fica em Taquara, zona rural de Planaltina. E o terceiro, no Gama.
No ano passado, buscando aumentar a segurança nessas zonas afastadas, a PM criou o Guardião Rural, um programa que une tecnologia, oficiais e a comunidade em uma rede de comunicação. Em 2014, o grupamento abriu grupos de conversa em um aplicativo de mensagens para que a população comunicasse situações de perigo. A partir do segundo semestre de 2018, o trabalho cresceu, com o monitoramento das propriedades. Inspirados por um sistema usado no município goiano de Catalão, a 313km de Brasília, a corporação convocou a comunidade para integrar o programa. O capitão Rafael Cunha explica que os policiais militares vão à casa do produtor e cadastram no sistema todas as informações pertinentes à segurança, como número e nome de moradores e funcionários, além dos veículos, maquinários e animais.
Se o proprietário quiser, pode mandar fazer uma placa informando que aquele terreno é monitorado pela Polícia Militar. Nela, é inserido um QR Code, permitindo que os policiais acessem, pelo sistema, os dados cadastrados do terreno, inclusive a localização via GPS. A informação ajuda, por exemplo, na hora de pedir reforços. Desde janeiro, o batalhão registrou 1,8 mil ocorrências. A maioria é de roubo ou furto. No total, foram 51 chamados, dois a menos do que no mesmo período do ano passado.
Em seguida, aparecem os casos enquadrados na Lei Maria da Penha. De janeiro a novembro de 2019, os militares receberam 48 chamados. Em igual período de 2018, 54 casos. Em relação ao parcelamento irregular, houve aumento. Enquanto em 2018 não teve registro, neste ano, os policiais atenderam sete ocorrências. O capitão Rafael explica que o aumento da fiscalização fez com que os registros do crime aumentassem.
Orientação
O programa aumentou o contato entre população e PMs, que fazem visitas diárias às propriedades. Quando as equipes se aproximam dos portões, não faltam convites para tomar café ou comer pão de queijo. O agricultor Carlos Alberto de Barros, 65, procurou a corporação quando soube do Guardião Rural e fez questão de integrar o programa. Ele sofreu prejuízos quando, há cerca de quatro anos, bandidos invadiram o lote dele e levaram uma bomba de irrigação. O equipamento pode custar R$ 2,8 mil. “Essas placas ajudam muito, porque quando o malandro vê que estamos sendo monitorados, ele vai embora. Tem um ano que instalamos e, de lá para cá, não houve mais nenhum furto”, comemora.
Segundo os policiais, na zona rural, é comum que ladrões, usando motos roubadas, circulem nas vias assaltando famílias que esperam a chegada do transporte escolar. Os veículos são facilmente confundidos com aqueles comprados em leilões, por não terem placa nem número de chassi. Nesses casos, no entanto, não podem circular fora da propriedade. Quem é flagrado em via pública é abordado por atitude suspeita.
Além das rondas, a PM dá orientações educativas para a comunidade. As dicas foram úteis para Djalma Nogueira, 63. Na chácara onde mora, ele cria galinha-caipira para a produção de ovos. Os animais foram alvo da cobiça de ladrões. “Eu ouvi os cachorros latindo e fui ver. Uma pessoa tinha entrado no galinheiro, pegado os ovos e duas galinhas e fugido correndo. Eu ainda corri atrás, mas não consegui alcançar”, recorda. Depois disso, foi orientado a reforçar as grades e os cadeados do lugar.