Bancada se irritou com a demora do presidente da Câmara em dar andamento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff
Irritada com a demora do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em dar andamento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, a bancada do PSDB elevou o tom e oficializou nesta quarta-feira o pedido de afastamento do peemedebista do comando da Casa.
A decisão ocorre depois que Cunha apresentou sua defesa à imprensa sobre os negócios que irrigaram suas contas secretas no exterior. Para os tucanos, a manifestação de Cunha foi um “desastre”, “inconsistente” e seria melhor se ele permanecesse em silêncio.
“Essa defesa acabou se tornando um desastre. Ele não se explicou, não convenceu nem a bancada do PSDB nem o país. Ele fez alegações soltas, sem consistência e sem o necessário respaldo de provas”, afirmou o líder do PSDB, Carlos Sampaio. A bancada se reuniu na noite desta terça para tomar a decisão. Sampaio vinha sendo pressionado pelos tucanos a se manifestar de forma mais contundente contra o encrencado Eduardo Cunha.
Para o Ministério Público, Cunha manteve contas no exterior que serviam para abrigar dinheiro de propina proveniente do escândalo de corrupção da Petrobras. Nos bastidores, no entanto, o partido continuava dando um apoio velado ao peemedebista por entender que ele seria personagem-chave para dar andamento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Mas, depois da explicação de Cunha de que o dinheiro não seria fruto de corrupção, mas sim da venda de carne enlatada na África, e da falta de documentações para embasar a defesa, a bancada decidiu reforçar o posicionamento.
Apesar de planejar pedir formalmente o afastamento de Cunha em manifestação no plenário, o PSDB afirma que não tomar novas medidas contra o peemedebista ou tampouco pressioná-lo a deixar o cargo. “Não há necessidade de fazê-lo. Ele já está sendo julgado. O nosso foco é a Dilma. Queremos iniciar o processo de impeachment. O do Cunha não só se iniciou como tem data marcada para a entrega da defesa e julgamento marcado. Não vamos perder nossos esforços cuidando de alguém que já está para ser julgado”, afirmou Carlos Sampaio. Internamente, a bancada chegou a discutir medidas mais duras, como entrar em obstrução até que Cunha deixasse o posto, mas houve o entendimento de que isso iria “parar a Casa”.
Impeachment – A nova ação contra Cunha está fortemente ligada às articulações em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A oposição passou a questionar a sustentação dada ao peemedebista depois que ele começou a fazer acenos ao Planalto, em um jogo de salvação mútua: o governo evitaria a cassação de Cunha no Conselho de Ética, enquanto ele paralisaria qualquer processo contra a petista. “Eles estão num jogo de empurra, e não dá mais para ficar nesse jogo. Não dá mais pra esperar a conveniência para um assunto grave como esse. Dois pesos, duas medidas”, resumiu o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).
Outros dois partidos de oposição – PPS e DEM – ainda estudam se vão acompanhar o PSDB em outra investida contra Cunha. A coletiva na manhã desta quarta-feira foi vista como um “atropelo” comandado por Carlos Sampaio, já que as outras manifestações públicas contra Cunha haviam sido tomadas em conjunto entre as legendas oposicionistas.
O entendimento é que se todos os opositores ao governo o abandonarem, Eduardo Cunha verá seu futuro político nas mãos de deputados petistas, que representam a maior parte das assinaturas que gerou a ação no Conselho de Ética. “Quero vê-lo no colo do PT. Será que vão realmente salvá-lo?”, disse um deputado de oposição, referindo-se ao pedido do ex-presidente Lula para a bancada poupar o presidente da Câmara e manter o foco na aprovação do ajuste fiscal. Interlocutores de oposição acreditam que com as ameaças de abandono podem acabar pressionando ainda mais o peemedebista a tomar uma decisão sobre o impeachment.
Leia a íntegra da nota do PSDB:
A bancada do PSDB na Câmara considera insuficientes as explicações apresentadas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em entrevistas no último final de semana, diante da contundência das denúncias e documentos já conhecidos sobre a existência de contas em seu nome e de familiares no exterior.
A bancada entende que, em qualquer hipótese definida pelo Conselho de Ética, a decisão final é do plenário da Câmara.
A bancada reafirma que seus representantes no Conselho de Ética têm o absoluto respeito de seus pares, bem como votarão de acordo com o rigor técnico exigido de um magistrado.
Reitera, de forma ainda mais veemente, posição firmada em nota emitida em outubro, logo depois do surgimento de documentos contra Cunha, oportunidade em que defendeu o seu afastamento da Presidência da Câmara face à gravidade das acusações.
Por fim, registra que, em nenhuma hipótese, a bancada do PSDB irá transigir com a ética exigida dos membros desta Casa, ainda que defenda uma causa nobre, como é o impeachment da presidente Dilma Rousseff.