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Quinze dos 24 partidos na Câmara se declaram contrários a proposta do voto impresso

Levantamento do GLOBO mostra que as siglas declaradamente contra à proposta reúnem 330 deputados da Casa; são necessários 308 votos para aprovar a medida

Quinze dos 24 partidos na Câmara dos deputados se declaram contrários ao voto impresso Foto: Najara Araujo/Câmara dos Deputados

O governo deverá sofrer mais uma derrota na votação em que o plenário da Câmara vai decidir se torna obrigatório o voto impresso no Brasil, a principal bandeira do presidente Jair Bolsonaro hoje. Os partidos declaradamente contrários à proposta somam 330 deputados, aponta um levantamento feito pelo GLOBO com dirigentes e líderes das legendas com assento na Casa. Das 22 bancadas consultadas, apenas duas, com 86 parlamentares no total, confirmam apoio ao projeto que é pivô da atual crise institucional entre o Judiciário e o Palácio do Planalto.

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) deve reunir nesta segunda-feira líderes partidários para tratar do tema e pode pautar a votação já para amanhã. Mesmo que parte dos congressistas desrespeite a orientação das siglas, são mínimas as chances de aprovação, na avaliação dos dirigentes. Por se tratar de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), são necessários 308 votos para aprovar a medida, já rejeitada na comissão especial formada para analisar o tema.

O projeto que tem Bolsonaro como garoto-propaganda conta com o apoio formal do PSL, que tem 53 representantes e abriga a maioria de perfil bolsonarista, e do bloco composto por PROS, PSC e PTB, com 33 deputados. No caso do PSL, porém, há uma divisão flagrante. Embora a maioria da bancada garanta a orientação da sigla a favor da PEC, uma parte expressiva do partido dará votos contrários.

Defesa das eleições

Três partidos — Republicanos, Podemos e Novo —não decidiram para qual lado irão, segundo seus representantes. Eles respondem por 50 deputados. O Patriota foi a única sigla que não respondeu como devem votar seus seis deputados. O PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, adiantou que vai liberar a bancada, isto é, permitir que cada um dos seus 41 integrante se posicione como preferir.

Num movimento incomum, Lira decidiu levar a questão a plenário mesmo após a derrota na comissão especial. A praxe é que matérias derrotadas nas comissões sejam arquivadas.

ACM Neto, presidente do DEM, reforça a posição que a sigla adotou no colegiado.

— O Democrata vai se posicionar contra o voto impresso, diante do risco ao sistema eleitoral e a própria democracia — justifica.

Mandatário do PSD, Gilberto Kassab critica o momento para esse debate:

— Todos os países estão discutindo ações para enfrentar a pandemia, nós estamos na contramão. Que a gente possa enterrar esse assunto e discutir as grandes questões nacionais — disse.

Baleia Rossi, presidente do MDB, engrossa o coro:

— Precisamos combater a principal fake news de que os votos não são auditáveis. Não faz sentido qualquer mudança no sistema eletrônico de voto — afirmou.

Até siglas da base aliada deverão contribuir para a derrocada do projeto defendido por Bolsonaro. É o caso do PL, partido da ministra Flávia Arruda, além do PP, de Ciro Nogueira, que vai enfrentar sua primeira grande votação na Câmara desde que chegou ao ministério. Ele tem participado da articulação em busca de apoio ao projeto, sem sucesso até aqui, visto o resultado na comissão especial.

Major Vitor Hugo, do PSL, é um dos líderes que adiantam a orientação pela aprovação da PEC, que, se aprovada, segue à apreciação do Senado.

— A gente precisa de uma camada a mais de proteção do sistema eleitoral que possibilite que os eleitos tenham mais legitimidade para exercer seus mandatos. Se não passar, vai uma decepção, mas vamos respeitar a decisão do plenário.

A postura belicosa de Bolsonaro afastou até mesmo partidos que, conceitualmente, apoiariam a proposta, como PDT e PSB. Lideranças das duas siglas admitiram que seriam favoráveis à discussão sobre uma forma adicional de auditoria do voto, mas que o aval nesse momento significaria engrossar a crise causada pelo presidente.

— Acredito que todos da bancada votarão contra. Eu, particularmente, sempre fui favorável ao voto impresso, mas não dá pra ficarmos do mesmo lado do Bolsonaro — afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Quase metade das siglas já anunciou publicamente como trataria da questão. No final de junho, presidentes de 11 partidos, incluindo o atual ministro Ciro Nogueira, então mandatário do PP, se reuniram por videoconferência e definiram posição contrária à adoção do voto impresso. Entre as legendas presentes à reunião estavam ainda DEM, PL, Solidariedade, PSL, Cidadania, MDB, PSD, PSDB, Avante e Republicanos.

Com a adesão de partidos como MDB, PSDB, DEM e PSD, além das legendas de esquerda, as chances de aprovação já são mínimas. Com exceção do PSB, todas as outras agremiações de esquerda deverão fechar questão, ou seja, obrigar toda a bancada a votar conforme estabelecido.

— Para que mexer nisso agora? Pra tumultuar o processo? Esse é o objetivo de Bolsonaro, que está vendo que vai perder em 2022 — diz Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

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