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sexta-feira, 22/11/24
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Relatório aponta falta de ação política contra desigualdade em São Paulo

Dados compilados pela Rede Nossa São Paulo demonstram que a capital paulista pouco avançou em equidade na oferta de equipamentos públicos.

São Paulo – A capital paulista segue sendo amplamente desigual na distribuição de equipamentos públicos para atendimento da população. De acordo com o Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo 2015, lançado hoje (19) pela Rede Nossa São Paulo, os itens mais precários são as vagas em hospitais, com 30 distritos ainda sem nenhum leito, e as casas de cultura, que ainda são inexistentes em 60 regionais, das 96 que compõem a capital paulista. O coordenador da Nossa São Paulo, Oded Grajew, considerou o resultado “uma vergonha para todos os paulistanos”.

A entidade fez um apelo ao secretário Municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, presente ao evento, para lembrar o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), “todos os dias”, que ainda há distritos da cidade sem equipamentos públicos. “Pedimos à gestão anterior e pedimos à gestão Haddad: zere os zeros. Recoloquem o Orçamento. Vejam os distritos com maiores problemas. É lá que se deve colocar os investimentos”, disse Grajew.

Em resposta, Suplicy afirmou que “é da maior relevância para a gestão estarmos conscientes dessa desigualdade”, e que vai levar os dados da pesquisa ao prefeito.

Cada distrito da capital paulista tem, em média 120 mil pessoas. O equivalente a uma cidade média no Brasil. Assim, são cerca de 3,6 milhões de pessoas sem leitos hospitalares públicos ou privados no distrito de suas residências. E aproximadamente sete milhões de pessoas na cidade sem casas de cultura na região onde moram. Todos os dados são de fontes oficiais do poder público, provenientes de secretarias e órgãos municipais, estaduais e mesmo federais, como o IBGE.

Segundo o relatório, onde existem os equipamentos, o que ocorre é a concentração. O distrito de Jardim Paulista concentra 35,53 leitos hospitalares para cada mil habitantes. Enquanto a proporção na cidade é de 2,99 por mil habitantes. Entre os espaços culturais, o distrito da Sé, no coração da metrópole, tem 3,62 casas de cultura para cada dez mil habitantes. Em toda a São Paulo, o índice é de apenas 0,08 por dez mil habitantes.

Os paulistanos também carecem de bibliotecas públicas. Dos 96 distritos, 36 não possuem bibliotecas. A ONU considera ideal a existência de dois livros por pessoa, disponíveis nesses equipamentos. Mas na capital paulista, o índice é de apenas 0,19 livro por habitante. A pior situação dos distritos que possuem biblioteca é a do Capão Redondo, que tem 0,001 livro para cada um de seus 300 mil habitantes.

O também coordenador da Nossa São Paulo Maurício Broinizi defendeu que falta vontade política aos poderes públicos municipal e estadual para enfrentar e mudar a situação. “Os indicadores têm variado muito pouco porque não houve ainda uma decisão política de levar os principais investimentos públicos para as localidades que mais necessitam”, afirmou.

Para ele, o Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, sancionado no ano passado, pode produzir os efeitos necessários para corrigir essas desigualdades. No entanto, embora o plano aponte na direção da descentralização da cidade, com a intenção de levar empregos, serviços e equipamentos públicos para outras regiões, ele tem um horizonte de execução de 15 anos.

“Já as políticas de curto prazo continuam muito limitadas. Seja pela crise financeira da prefeitura, seja pela falta de priorização desses territórios. O que também ocorre porque grande parte dos vereadores batalham por verbas para desenvolver projetos que priorizam seus nichos eleitorais e não olham para as necessidades da cidade”, criticou Broinizi.

A capital apresentou ainda uma piora na capacidade de atendimento da demanda por creches para crianças de zero a três anos. Entre 2012 e 2014, a cidade teve diminuição  de 69,22% para 54,88% no atendimento sobre o total de inscrições realizadas. Foram solicitadas 415 mil ingressos em creches no ano passado, mas somente 228 mil pedidos resultaram em uma vaga.

A Nossa São Paulo atribui essa situação a dois fatores. Primeiro, a modificação no sistema de cadastro de crianças, que começou a ser realizado em 2011. E em segundo, a um aumento do número de mulheres trabalhando fora de casa.

Broinizi comentou que em 2009, haviam 5% menos mulheres do que homens no mercado de trabalho da capital paulista. Hoje essa diferença é 2,6%. Além disso, elas superam em 10% o número de homens cursando universidades.

“Certamente esses índices combinados são as explicações mais plausíveis do avanço de solicitação por vagas em creches”, avaliou Broinizi.

O único índice que vem apresentando melhora constante é a disponibilidade de áreas verdes por habitante na cidade, que vem aumentando desde 2010. Porém, a quase totalidade dessas áreas está concentrada em Parelheiros, no extremo sul da capital paulista, ou na Serra da Cantareira, no extremo norte.

Já a implementação de equipamentos esportivos sofre estagnação desde 2013, com 541 locais para práticas de atividades físicas. O que deixa a cidade com a proporção de 0,47 equipamentos para cada 10 mil habitantes.

Fonte: RBA

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