Em caso raro na medicina, um homem rompeu a garganta após segurar um espirro. Mas, afinal, quais são os riscos da prática? Especialistas respondem
Na Inglaterra, um homem de 34 anos rompeu a garganta após segurar um espirro forte. O caso, considerado raro, foi publicado no periódico científico British Medical Journal Case Reports junto com um alerta médico para que as pessoas não façam isso. Mas, afinal, quais são os riscos de segurar um espirro?
Antes de responder essa pergunta, é preciso entender o que é um espirro. O espirro é um mecanismo respiratório de defesa caracterizado por um fluxo de ar de alta velocidade com o intuito de eliminar secreções e agentes agressores. “Por exemplo, pessoas com alergias respiratórias produzem muco para lavar o nariz e espirram para expulsar o que causa a irritação. Embora nessas pessoas, esse mecanismo de defesa funcione com maior frequência, é algo que todos nós temos”, explica Jair de Carvalho e Castro, otorrinolaringologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Possíveis consequências
Portanto, ao segurar um espirro, toda a pressão gerada por esse fluxo de ar de alta velocidade que deveria ser expelida, é internalizada no corpo. “Esse ar trancado vai para algum lugar e o mais frequente é o ouvido”, afirma Castro. Algumas consequências dessa atitude no ouvido variam desde um simples desconforto, processo inflamatório, dor até o rompimento do tímpano, em casos especiais.
Segurar um espirro também pode ter consequências nas cavidades e seios paranasais – local onde se forma a sinusite -, na garganta, nos pulmões e no olho, podendo causar o rompimento de vasos sanguíneos e até desmaios. “Essa alteração de pressão pode causar um barotrauma, como o visto durante mergulhos e voos”, explica o professor.
Entretanto, consequências gravíssimas, como o caso do inglês também estão associadas a alterações anatômicas. “É possível que esse indivíduo tivesse alguma fraqueza individual, como uma musculatura mais fraca no local, porque geralmente o dano é em regiões mais fracas”, diz Jeanne Oiticica, otorrinolaringologista e chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Conheça o caso
O homem de 34 anos, morador da cidade inglesa de Leicester, rompeu a garganta após segurar um espirro forte. A pressão, que não tinha por onde escapar, rasgou o tecido mole do local. Ele chegou ao hospital quase sem falar e com dificuldades para engolir. Um exame de raio-X revelou que havia ar escapando da traqueia do paciente. Ele ficou internado por uma semana, recebendo alimentação via tubo, até se recuperar.
Segundo os médicos do Departamento de Otorrinolaringologia do hospital Leicester Royal Infirmary, na Inglaterra, onde o paciente foi atendido, esse tipo de lesão é vista em acidentes e traumas, e também pode acontecer por causa de tosse forte ou vômito. Eles alertam que tentar evitar um espirro fechando as narinas e a boca é uma manobra perigosa que deve ser evitada.
Colocar a mão na frente
Se segurar o espirro não é uma boa ideia, espirrar livremente também não é. “Um espirro tem uma velocidade astronômica, quase de um avião, podendo chegar a 800 km/hora e com potencial de contaminar uma região de dois a três metros quadrados em ambiente fechados, como empresas ou aviões. Por isso gripes se espalham tão rápido.”, esclarece Castro.
O ideal, para não causar danos à própria saúde nem colocar a dos outros em risco é sempre utilizar um papel, lencinho e quando isso não for possível, colocar a mão na frente. “Como a vovó dizia, o ideal é não segurar, mas nada impede de colocar a mão na frente para minimizar a dissipação dos esporos, que podem chegar a mais de 100.000 germes em apenas um espirro.”, ressalta Jeanne.