Pesquisa revela que os cachorros são capazes de reunir informações visuais e sonoras e reconhecer emoções em outros cães e também em seres humanos. Até hoje, apenas primatas haviam apresentado essa capacidade
Donos de cães costumam acreditar que seus animais de estimação são capazes de compreender todas as suas emoções. Na última semana, um estudo publicado no periódico Biology Letters deu base científica a essa ideia. De acordo com o time de pesquisadores, que inclui três brasileiros, cachorros são capazes de reunir informações visuais e sonoras e reconhecer emoções em outros cães e também em seres humanos. É a primeira vez que uma espécie, além dos primatas, demonstra essa habilidade.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas fizeram testes com dezessete cães adultos. Os animais foram expostos a imagens caninas e humanas com expressões agressivas ou felizes. Ao mesmo tempo em que viam as imagens, os cães ouviam um som, que poderia ser humano (na língua portuguesa, para evitar que os animais ouvissem idiomas familiares), canino, ou neutro, com tons equivalentes às imagens agressivas ou felizes.
O que os especialistas perceberam foi que, além de identificarem as expressões das vozes e das imagens, os cães foram capazes de relacionar as emoções em ambas. Quando o som era agressivo, os cães olhavam a imagem do humano ou cão raivoso; quando o som era alegre, viravam a cabeça para as imagens felizes. Este comportamento levou os cientistas a verificar que os animais conseguem diferenciar também as emoções humanas, e não somente as expressões de sua própria espécie.
Adaptações – Até então, essa habilidade só havia sido verificada em primatas, como chimpanzés e orangotangos. De acordo com os pesquisadores, a característica dos cães de reconhecer e integrar informações sobre emoções humanas revela uma capacidade cognitiva sofisticada, que pode ter sido essencial para a permanência desses animais entre os homens.
O estudo também levanta a possibilidade de que essa qualidade, espontaneamente adquirida pelos cães, pode existir em outros mamíferos não-humanos e ter ajudado no desenvolvimento de relações sociais entre as espécies. “Ela pode ser uma chave para a compreensão da evolução da cognição social”, afirmam os autores no estudo.