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quinta-feira, 26/12/24
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Startup argentina utilizará foguetes chineses para lançar 90 satélites

ILUSTRAÇÕES DOS MICROSSATÉLITES QUE SERÃO LANÇADOS AO ESPAÇO (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Nunca foi tão barato construir um satélite e colocá-lo em órbita. Entre os diversos setores que se beneficiam dessa revolução está o mercado da observação da Terra. Muitas empresas anunciam projetos ambiciosos para fotografar, a partir do espaço, cada pedacinho do planeta em alta resolução. Uma delas é a Satellogic, startup de tecnologia espacial fundada em 2010 na Argentina. Acabam de divulgar uma importante parceria com a empresa China Great Wall Industry Corporation (CGWIC): ambas firmaram um contrato em janeiro que prevê o lançamento de 90 microssatélites em foguetes chineses até o final de 2020.

Quanto estiver operando na órbita baixa, a constelação de satélites será capaz de fazer um remapeamento completo da superfície terrestre a cada semana, em uma resolução detalhada que revela até um metro com nitidez. “Isso é novo, não apenas para nós, mas para a Terra”, afirma Marco Bressan, diretor de soluções da Satellogic. “Mesmo se juntássemos todos os satélites de observação lançados desde o início da era espacial, não teríamos a capacidade de enxergar em alta resolução o que está acontecendo em cada metro quadrado do planeta todas as semanas.” Será como ter 90 olhos que tudo veem pairando sobre nossas cabeças.

Nosso mundo é quase como um organismo vivo, dinâmico, em constante mudança, seja por forças naturais, seja pelas mãos humanas. Com tanta coisa se passando simultaneamente, fica fácil perder o controle das situações. Para diversos setores da sociedade que lidam com transformações rápidas, ter acesso a análises geoespaciais de qualidade para embasar a tomada de decisões é algo fundamental, que pode salvar vidas ou poupar muito dinheiro. Clientes típicos de empresas como a Satellogic são governos, indústrias, agronegócio, manejo de recursos naturais, mineração, energia, ou até finanças e seguros.

“Satélites são um meio para se chegar a um fim”, explica Bressan. Nesse sentido, apenas os pixels de milhões de imagens pouco valem: é preciso um mecanismo inteligente que interprete esse volume monstruoso de dados. Por isso a empresa se preocupou desde o princípio em desenvolver paralelamente tecnologias para manufatura de satélites em Buenos Aires e Montevidéu, e de inteligência artificial e deep learning em Barcelona. Outras sedes ficam em Tel Aviv, Miami e Pequim.

Isso faz da Satellogic, uma pequena multinacional, a única empresa do ramo a integrar verticalmente todas as etapas da geoanálise. O acordo com a CGWIC prevê o primeiro lançamento do contrato para o último trimestre de 2019, no qual serão colocados em órbita 13 satélites. Junto com os três que já estão em funcionamento, e mais três que os chineses devem lançar nos próximos meses, a companhia fechará o ano com 19 satélites em operação. São pequenos, muito pequenos: medem um metro de comprimento por meio metro de largura e de altura. Pesam só 45 quilos.

FOGUETE CHINÊS LEVARÁ OS SATÉLITES AO ESPAÇO (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Oswaldo Loureda, engenheiro aeroespacial formado pelo ITA, considera a proposta da Satellogic interessante e um bom exemplo do NewSpace, tendência global cujo objetivo é reduzir drasticamente os custos dos projetos espaciais através da eficiência da iniciativa privada. “Agências espaciais e grandes corporações como a Airbus constróem até hoje satélites de grande porte, pesados, a Satellogic está mostrando que não precisa ser assim”, diz o fundador e CEO da startup Acrux Aerospace Technologies.

Loureda compara com os satélites de monitoramento ambiental CBERS, desenvolvidos pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em parceria com a China: ao custo de centenas de milhões de dólares e com peso equivalente ao de 40 satélites da Satellogic, têm capacidade igual ou até inferior. Sendo que o custo de produção de cada microssatélite não ultrapassa US$ 2 milhões.”É o mesmo nível de tecnologia que a gente poderia utilizar aqui no INPE ou nas startups nacionais, porém no Brasil não há investimento privado e a AEB até agora não teve essa visão”, afirma.

Ele diz que há um lobby industrial de meia dúzia de empresas de São José dos Campos (SP) que insistem na lógica do produto caro, demorado, grande e pesado. “Se a atual estrutura não mudar, é impossível fazermos qualquer coisa parecida com a Satellogic.” A empresa argentina ocupa posição privilegiada no mercado graças à junção das soluções próprias de geoanálise com a fabricação dos próprios satélites, podendo oferecer serviços a preços bem mais baixos que os da concorrência.

“Entregamos todos esses atributos: alta resolução, alta frequência e preços acessíveis, enquanto outros players da indústria só contemplam no máximo dois deles”, diz Bressan. A meta é eventualmente alcançar uma constelação com mais de 300 satélites ligados em uma plataforma totalmente automatizada, capaz de gerar informações diários. O contrato também é bastante estratégico para a CGWIC. Única empresa autorizada pelo governo chinês a atuar comercialmente na indústria espacial, a parceria coloca o foguete Longa Marcha 6 no páreo do acirrado e nascente mercado dos lançamentos de pequenos satélites.

O lançador só voou duas vezes desde o voo inaugural de 2015, mas é considerado promissor. Ele pode colocar até uma tonelada em órbita, capacidade superior à de concorrentes como o Electron, da Rocket Lab, que transporta no máximo quatro vezes menos carga. Se depender da ambição de empresas como a Satellogic e de suas constelações de satélites cada vez maiores, os pequenos foguetes terão um grande trabalho pela frente ao longo dos próximos anos.

Fonte: Revista Galileu

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