Papéis têm compromisso com redução de 15% nas emissões até 2030, a contar de 2015
A Suzano planeja obter pelo menos 750 milhões de dólares, o equivalente a quase 4 bilhões de reais, com sua primeira emissão de “bônus sustentabilmente atrelados” — numa tradução livre e feia para sustainability-linked bonds. Esse tipo de papel não é inovador apenas para companhias brasileiras: trata-se de uma modalidade ainda nova no mundo. A emissão foi lançada hoje e seu valor ainda não era conhecido.
O custo dessa dívida está atrelado a compromissos de melhorias em sustentabilidade, com metas e prazos específicos firmados com esses credores. Mas o uso do dinheiro, contudo, não precisa estar comprometido com esses projetos. A companhia fica livre para dar a destinação que achar melhor aos recursos.
Essas são as principais diferenças em relação aos “bônus verdes” — os green bonds. Nessas operações, o dinheiro tem como finalidade projetos que podem ser enquadrados como sustentáveis. O recurso fica carimbado — ainda que na prática, a flexibilidade financeira obtida permita movimentações paralelas.
Conforme a Reset Capital, especializada em notícias de negócios do universo ESG e que antecipou o movimento da companhia de papel e celulose, a Suzano se comprometeu a cortar suas emissões em 15% até 2030, a contar de 2015, ano da assinatura do Acordo de Paris. Na comparação com 2019, significa um ajuste de 10%. Há verificações periódicas e metas intermediárias. Caso a companhia não consiga cumprir o combinado, terá um aumento de custo a partir de 2026.
Os papéis terão prazo de dez anos e a taxa inicial sugerida é em torno de 4,5% ao ano. A precificação fecha ainda nesta quinta-feira. Os coordenadores líderes são BNP Paribas, Bofa Securities, Credit Agricole, J.P. Morgan, Mizuho, Rabo Securities e Scotiabank. O sindicato para distribuição inclui ainda Goldman Sachs, Morgan Stanley, MUFG, Santander e SMBC Nikko.
No conjunto geral de sua atividade, a Suzano é uma companhia que captura mais gás carbônico da atmosfera do que emite. A gestora de recursos carioca JGP, no relatório de apresentação de sua filosofia de investimento após a decisão de integrar os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG), fez um exercício que classificou como “rudimentar” sobre o impacto de receita que as empresas teriam para compensar suas emissões, ao custo de 10 dólares por tonelada de carbono e de 60 dólares. A estimativa se baseia nas informações divulgadas pelas próprias empresa, relativas a 2018. A Suzano é a única entre as brasileiras que teria ‘ganhos’ de até 10% em sua receita líquida, no lugar de perdas.
Recentemente, a Suzano já havia dado indicações ao mercado que só faria sentido buscar novos recursos se fosse para poder trocar títulos antigos, de custo mais alto. Como as taxas de juro estão baixas no mundo todo, as companhias não estão vendo sentido em captações para manutenção do dinheiro em caixa, se não houver um projeto atrelado. A companhia fechou junho com 67,9 bilhões de reais em dívida líquida, equivalente a 4,7 vezes o Ebitda acumulado de 12 meses para cálculos em dólares. A empresa tem boa parte de seus vencimentos em moeda internacional, bem como de seus compromissos. O cronograma de amortizações para este ano tem 5,15 bilhões de reais para ser honrados neste ano.
Exemplos nacionais
As companhias brasileiras estão inovando no tema ambiental e aproveitando essa oportunidade. A Suzano, que já emitiu green bonds em 2016, se apresenta, mais uma vez, à frente desse movimento. Mas recentemente, a Rumo também obteve 500 milhões de dólares em uma emissão verde no mercado externo, com demanda pelos papéis cinco vezes maior que o ofertado. E a empresa de energia Eneva também está inovando. A companhia buscou um selo intermediário da Sitawi para uma operação que não é totalmente verde, mas representa uma evolução na sustentabilidade, com redução importantes de emissões — e trouxe para o Brasil um debate que está apenas no início no mercado internacional, relacionado à companhias de gás.