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segunda-feira, 23/12/24
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Tensão entre Reino Unido e França aumenta com ameaça de secretário francês

“Reduzir o fornecimento é possível, mas cortar a energia de todos os habitantes de Jersey neste inverno não vai acontecer”, disse Clément Beaune

(crédito: Ludovic MARIN / AFP).

O Brexit continua sendo uma dor de cabeça na França, que luta para que seus pescadores tenham acesso às águas britânicas, mesmo recorrendo a ameaças, e vê a cooperação militar com o Reino Unido se deteriorar.

No último episódio da saga, o secretário de Estado francês, Clément Beaune, ameaçou nesta sexta-feira (8) reduzir o fornecimento de eletricidade à ilha britânica de Jersey, localizada na costa francesa da Normandia.

“Reduzir o fornecimento é possível, mas cortar a energia de todos os habitantes de Jersey neste inverno não vai acontecer”, disse Beaune à BFMTV, um dia depois de o governo da ilha denunciar ameaças “inaceitáveis” de Paris.

A França distribui eletricidade para as Ilhas Britânicas ao largo de sua costa no Canal da Mancha e, segundo Beaune, o acordo do Brexit alcançado com a União Europeia (UE) prevê um “acordo de exportação de energia”.

“Portanto, podemos regular o abastecimento. Não quero chegar a esse ponto. Mas é uma das possibilidades políticas”, reiterou o governante francês, em uma ameaça velada a esta ilha em pleno conflito pelas licenças de pesca.

O acesso às águas britânicas também é regulado por um acordo firmado em 2020 entre Londres e Bruxelas. Para pescar e obter uma licença, os pescadores devem provar que já operavam na zona.

Até agora, Londres e Jersey concordaram com cerca de 200 licenças definitivas, com Paris solicitando mais do que o dobro.

“Pedimos pouco mais de 450 licenças no total (…) Vamos nos manter firmes”, disse o secretário de Estado.

“Não podemos conceder licenças, se não tivermos dados e evidências” que mostram que as embarcações “respeitam os termos do acordo comercial” e que operavam lá antes do Brexit, respondeu o chanceler de Jersey, Ian Gorst, na quinta-feira.

Paris considera que Londres não cumpre o acordo. Beaune estimou que os britânicos precisam dos europeus para vender seus produtos pesqueiros, bem como para sua energia, ou serviços financeiros, entre outros.

O Ministério francês do Mar estuda possíveis medidas que vão da energia ao recebimento de estudantes, passando por impostos e obstáculos ao desembarque de pescado britânico em portos franceses.

Cooperação militar

Exacerbada pelas críticas do Reino Unido à, em sua opinião, insuficiente ação da França para impedir a chegada de migrantes à costa inglesa, a tensão também parece afetar a cooperação militar.

Ambos os países não conseguem chegar a um acordo sobre as próximas etapas do programa de mísseis antinavios e de cruzeiro que planejaram desenvolver em conjunto. Este é um aspecto crucial para a autonomia europeia em questão militar.

“Este é certamente um programa que atravessa dificuldades, dado o estado da nossa relação com o Reino Unido. Estamos refletindo sobre o que pode ser feito”, disse a ministra francesa da Defesa, Florence Parly, na terça-feira (5).

No final de setembro, Parly cancelou uma reunião com seu homólogo britânico, Ben Wallace, de acordo com uma fonte do Ministério francês, em meio ao descontentamento da França com o anúncio de uma aliança estratégica entre Estados Unidos, Austrália e Reino Unido.

A aliança AUKUS, que busca rivalizar com a China no Indo-Pacífico, fez Canberra cancelar um contrato para a compra de submarinos franceses clássicos.

A relação franco-britânica “esfriou na prática”, disse à AFP O presidente do Comitê de Defesa do Senado francês, Christian Cambon, para quem a saída do Reino Unido da UE “não criou o clima mais favorável”.

Sob o Tratado de Lancaster House de 2010, Paris e Londres se comprometeram a desenvolver uma nova geração de mísseis antinavios e de cruzeiro até 2030, substituindo aqueles usados por seus respectivos exércitos.

Mas, como Parly reconheceu ao jornal Le Monde no final de setembro, esse programa está estagnado, em um momento em que Londres optou pelo Brexit, pela política externa “Grã-Bretanha global” que olha para Washington e o Indo-Pacífico e “até para uma dependência maior dos Estados Unidos”.

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