Homens têm raspado os pelos do rosto para se proteger da Covid-19. Infectologistas analisam a estratégia
Uma mensagem espalhada nas redes sociais convida os homens a tirarem suas barbas com a finalidade de reduzir o risco de infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) – orientação que teria o respaldo de órgãos de saúde. Há ainda versões que garantem que o conselho vem de um estudo feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. Como prova, inclui-se uma imagem com diversos tipos de cortes de barba e a avaliação da entidade sobre qual pode ser usado – e qual é contraindicado.
Coincidência ou não, nos últimos dias algumas personalidades aderiram à medida, como o apresentador Felipe Andreoli e jogadores da seleção brasileira de vôlei. Mas será que faz sentido?
Primeiro, é bom frisar que não existe recomendação oficial sobre o assunto. Ou seja, ao contrário do que se diz por aí, nenhum órgão de saúde – do Brasil ou do mundo – estimula os homens em geral a abrirem mão da barba.
Já a imagem do CDC com os modelos de barbas mais adequados é de 2017. Antes, portanto, da pandemia que estamos vivendo. Mais importante do que isso: as recomendações são direcionadas a profissionais da área de saúde que precisam usar máscaras ou respiradores no dia a dia.
O infectologista João Prats, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conta, inclusive, que esse é o único consenso a respeito do tema. Ou seja, apenas médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde precisam se preocupar com a barba.
“Dependendo de como ela for, pode acabar impedindo a vedação correta da máscara”, justifica o médico. E o acessório precisa estar bem grudado ao rosto para realmente proteger os especialistas do contato com secreções contaminadas.
Para completar, Prats lembra que é difícil realizar uma higienização adequada do rosto fora de casa e durante a rotina de trabalho. “Por isso, especificamente no caso de profissionais de saúde, a recomendação é remover a barba”, resume.
Para o infectologista Ivan França, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, embora não exista uma orientação formal para a parcela da população que não atua na área da saúde, há uma vantagem em tirar os pelos: “Isso facilita a higienização da área e reduz o hábito de colocar a mão no rosto”, pondera.
Vale lembrar que esse comportamento (tocar em nariz, olhos, boca) é contraindicado, já que eleva demais o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Para quem deseja manter a barba, o médico sugere pelo menos apará-la.
Lavar as mãos: a melhor forma de prevenção
De acordo com Prats, quando uma informação como essa do CDC é utilizada em um contexto errado, pode gerar ansiedade e fazer as pessoas direcionarem seus esforços em medidas que não fazem tanta diferença assim. Para quem não é profissional de saúde, ele reforça que o foco deve ser na constante e correta lavagem das mãos. E no isolamento social, claro.
O recado vale para outros tipos de mensagens. Sempre que receber informações encaminhadas por redes sociais e aplicativos de bate-papo, cheque a veracidade do conteúdo. Ainda que tirar a barba não faça mal algum (e realmente facilite a higienização do rosto), outros tipos de recomendações podem ser arriscadas para a saúde.