Teste será comandado pela Fiocruz e recrutará 3 mil pessoas. Estudo pretende entender se a BCG é eficaz na prevenção do novo coronavírus
Em mais uma tentativa para frear a pandemia, a vacina da tuberculose (BCG) será testada no Brasil contra o novo coronavírus. Os testes de fase 3 (a última parte dos testes clínicos) serão realizados em 3 mil voluntários brasileiros da área da saúde, comandados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o instituto australiano Murdoch Children’s Research Institute.
A hipótese que os cientistas pretendem provar tem como base estudos científicos prévios que mostraram que a BCG foi capaz de induzir uma resposta imune viral nos participantes (crianças e idosos) que a utilizaram. Nas crianças, por exemplo, a vacina contra a turbeculose foi capaz de prevenir infecções virais de um ano a um ano e seis meses. Vale lembrar que as pesquisas citadas não foram testadas na covid-19.
Os testes no Brasil estão previstos para começar em outubro e devem durar por até um ano. O acompanhamento dos voluntários será feito semanalmente pelo período de duração dos testes. Todos os voluntários envolvidos também serão testados com frequência para saber se contraíram ou não o SARS-CoV-2. Os dados iniciais do estudo devem ser divulgados no primeiro trimestre de 2021.
“Em relação às novas vacinas de covid que estão em desenvolvimento, temos mais segurança por usarmos uma vacina que já é amplamente conhecida e difundida no mundo”, explica Julio Croda, um dos coordenadores dos testes no Brasil. Croda também afirma que os testes serão realizados em idosos acima de 70 anos, visando a segurança da BCG.
A BCG será testada como forma de proteção contra o vírus em 10 mil pessoas no total. Outos três mil voluntários foram recrutadas na Austrália e o restante será dividido entre o Reino Unido, a Espanha e a Holanda. “O que buscamos é ter uma alternativa e avaliar uma vacina que é conhecida. Sabemos que existem vacinas específicas para a covid-19, mas não sabemos em quanto tempo elas serão fornecidas para a população”, diz. “É uma alternativa que será testada e que se, no momento da finalização do estudo, não tivermos outra opção, ela pode ser uma proposta de proteção por algum tempo.”
Visto que a vacina tem uma duração de pouco mais de um ano contra alguns tipos de vírus, não significa que porque um indivíduo já foi vacinado com a BCG que ele não será infectado nunca mais por doenças virais — uma vez que a proteção é normalmente dada durante a infância. A vacina da BCG é inespecífica no caso da covid-19, mas ainda assim eficaz contra a tuberculose.
O estudo tem apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é financiado pela a Fundação Bill & Melinda Gates.