Instituição considera aumento de impostos sobre aço e alumínio um risco a crescimento e empregos
Cortes de impostos e o aumento de gastos públicos nos Estados Unidos provavelmente irão impulsionar o crescimento da economia global neste e no próximo ano. Mas este quadro favorável pode ser contrabalançado por uma escalada das tensões comerciais segundo relatório trimestral divulgado hoje pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A avaliação ocorre em meio a reações negativas de vários países, incluindo o Brasil, e da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a decisão americana de sobretaxar importações de aço e alumínio, anunciada na última semana, A União Europeia ameaçou retaliar, sobretaxando produtos americanos e adotando outras medidas de proteção.
No documento, a OCDE prevê expansão mais forte para grandes economia este ano, incluindo “significativa” aceleração nos EUA, Alemanha, França, México, Turquia e África do Sul. Já o crescimento de outras economias relevantes deverá perder força, mas não tanto quanto a OCDE imaginava quando divulgou suas projeções anteriores, em novembro.
O que mudou desde então foi o fato de o Congresso americano ter aprovado abrangentes cortes de impostos e mais gastos federais em dezembro e fevereiro, respectivamente. Na visão da OCDE, essas medidas ajudarão a economia dos EUA a crescer 2,9% em 2018 e 2,8% em 2019. As estimativas anteriores do grupo eram de altas de 2,5% este ano e 2,1% no próximo.
Considerando-se também o auxílio de um estímulo orçamentário mais modesto na Alemanha, essa combinação de fatores deverá levar a economia global a crescer 3,9% tanto em 2018 quanto em 2019, ante projeções anteriores de 3,7% e 3,6%. “Isso está bem perto da média histórica”, comentou Álvaro Pereira, economista-chefe interino da OCDE. “A economia mundial está bem mais forte do que costumava ser”.
Mas há nuvens no horizonte, de acordo com a OCDE, uma vez que a aceleração da economia pode ser comprometida por uma série de aumentos tarifários iniciada com a recente decisão dos EUA de taxar importações de aço e alumínio.
Citando o impacto negativo de disputas comerciais anteriores no crescimento e empregos, a OCDE apelou a parceiros comerciais dos EUA que não se apressem em retaliar Washington. “A escalada (das tensões) não é um caminho que queremos percorrer porque sabemos, com base na história, o que acontecerá”, disse Pereira, um ex-ministro da Economia de Portugal. “A escalada normalmente tem resultados bem ruins para todo mundo. É importante apostar em soluções globais para o excesso de capacidade na indústria siderúrgica”.
A OCDE também elogiou os passos que os principais bancos centrais do mundo vêm dando para reduzir os estímulos monetários que vinham fornecendo para estimular o crescimento econômico. “Estamos finalmente saindo do legado da crise financeira, em termos de política macroeconômica”, afirmou Pereira em entrevista ao The Wall Street Journal.
Juros
Diante da expectativa de expansão mais forte dos EUA, a OCDE agora prevê que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) irá elevar seus juros básicos quatro vezes este ano e outras quatro vezes em 2019. Anteriormente, a OCDE projetava três aumentos por ano. A entidade também espera que o Banco Central Europeu (BCE) comece a reduzir seu programa de compra de ativos (conhecido como QE) ainda este ano e passe a elevar seu juro básico a partir de 2019.
No caso da zona do euro, a OCDE agora projeta crescimento de 2,3% em 2018 e de 2,1% no ano que vem, ante estimativas anteriores de 2,1% e 1,9%, respectivamente.
A OCDE, no entanto, apontou que há riscos na “normalização” das taxas de juros, diante dos elevados níveis de endividamento e dos altos preços dos ativos. “O período prolongado de taxas de juros em níveis baixos e a volatilidade encorajaram a maior tomada de riscos, deixando o sistema financeiro mais exposto a mudanças no sentimento do mercado, à medida que a política monetária se normaliza”, avalia a OCDE. “Novas tensões serão particularmente prováveis se as taxas forem alteradas abruptamente com um eventual aumento inesperado da inflação”.
Neste sentido, a OCDE ressalta que é “essencial” que os bancos centrais ofereçam “uma comunicação clara sobre a trajetória para a normalização”.